domingo, 4 de junho de 2017

Liturgia do dia 04/06/2017

A imagem pode conter: texto


A imagem pode conter: 2 pessoas, comida e texto


Leituras
At 2,1-11
Sl 103,1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)
1Cor 12,3b-7.12-13
Jo 20,19-23

Solenidade de Pentecostes

Domingo

Primeira Leitura:  At 2,1-11

1 Chegou o dia de Pentecostes e estavam todos reunidos naquele mesmo lugar. 2 De repente veio do céu um barulho que parecia o de um furacão: invadiu toda a casa onde estavam reunidos. 3 Então, lhes apareceram línguas como se fossem de fogo, que se dividiram e pousaram sobre cada um deles. 4 Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os impelia a que se exprimissem. 5 Ora, estavam morando então em Jerusalém judeus, homens piedosos, provenientes de todas as nações que existem debaixo do céu. 6 Quando se deu aquele barulho, ajuntou-se muita gente, pasmada, porque cada pessoa os ouvia falar em sua própria língua. 7 Desorientados e admirados, eles diziam: “Mas não são galileus todos esses que estão falando aí? 8 Então como é que cada um de nós ouve falar em sua língua materna? 9 Partos, medos, elamitas e os habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e Capadócia, do Ponto e da província da Ásia, 10 da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia vizinhos de Cirene, bem como os romanos residentes aqui, 11 judeus e os seguidores de sua religião, cretenses e árabes — todos os ouvimos proclamar as maravilhas de Deus em nossas próprias línguas”.
Salmo: Sl 103,1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)
R. Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai.
1 Bendize o teu Senhor, ó minha alma! Ó meu Deus e Senhor, tu és, tão grande!
24ac Numerosas, Senhor, as tuas obras. Enchem a terra as tuas criaturas!

29bc Se retiras teu sopro, eles fenecem; voltam de novo ao pó de onde vieram. 30 Envias teu espírito, e renascem, e eis que a face da terra tu renovas.

31 Que a glória do Senhor sempre perdure, alegre-se o Senhor por suas obras!

34 Possam minhas palavras agradar-lhe, pois tenho no Senhor minha alegria!
Segunda Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13

Irmãos: 3b Ninguém pode dizer “Jesus é o Senhor” sem estar sob a ação do Espírito Santo. 4 São vários os dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. 5 E os ministérios são vários, mas o Senhor é o mesmo. 6 As obras também são várias, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. 7 A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem de todos. 12 Realmente, assim como o corpo é um só, embora tenha muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, não formam senão um só corpo, assim é também com Cristo. 13 Porque, judeus ou gregos, escravos ou livres, todos nós fomos batizados num só Espírito, para formar um só corpo e todos bebemos de um só Espírito.
Evangelho: Jo 20,19-23

19 Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro depois do sábado, os discípulos estavam reunidos com portas fechadas, por medo dos judeus. Então Jesus entrou, ficou no meio deles, e disse: “A paz esteja convosco!”. 20 Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Quando os discípulos viram o Senhor, ficaram cheios de alegria. 21 Então Jesus lhes disse de novo: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio”. 22 Depois destas palavras, soprou sobre eles e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 Aqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados; aqueles a quem retiverdes, serão retidos”.
Leituras:
Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2017 - Ano A - São Mateus, Brasília, Edições CNBB, 2016.
Citações bíblicas:
Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
Primeira Leitura:
At 2,1-11.
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.
(At 2,4).
Esta Primeira Leitura descreve a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e o dom de línguas que lhes é dado, de modo que todas as pessoas reunidas diante do Cenáculo os entendessem falar em suas próprias línguas.
Mais do que o fato narrado aqui, importa o seu significado.
Primeiro, o que significa que todos os apóstolos ficaram cheios do Espírito Santo?
Trata-se da entrega do Espírito Santo prometido por Jesus antes de sua Morte e Ressurreição. Ele de fato havia dito: “ ... eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (Jo 14,16).
De fato, se Jesus não estaria mais corporalmente no meio de seus discípulos, a Igreja, como eles poderiam se manter firmes na fé? Retirando-se Jesus para o céu, em seu lugar a presença divina não podia faltar. É por isto que Jesus diz: o “Consolador, ... esteja sempre convosco”.
Isto nos dá o que pensar.
Cremos de fato que o Espírito Santo está sempre conosco?
Cremos que é o Espírito Santo que governa a Igreja?
Cremos que o Espírito Santo age em nós por meio de seus Dons e Frutos?
Pensemos e aprendamos o que nos falta conhecer.
Segundo, o que significa o milagre de os apóstolos falarem em línguas e todas as pessoas os entenderem em suas próprias línguas?
Trata-se do cumprimento do que Jesus prometeu aos discípulos quando partiam para anunciar o Reino de Deus, como diz Mc 16,17: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas...”.
As diferentes línguas da humanidade espalhada por toda a face da terra eram motivo de divisões, mal-entendidos, preconceitos, ódios e guerras.
Por detrás desta variedade de línguas está o mito da Torre de Babel: enquanto os homens unidos podiam construir a Torre, desunidos desistiram dela.
A Torre de Babel tem dois significados:
a) o bem que é a união da humanidade que se entende por falar a mesma língua;        b) o mal que foi a origem desta unidade: a soberba que levou a humanidade a desafiar a divindade chegando acima das nuvens, onde a divindade morava.
Do mito da Torre de Babel Deus pôde tirar preciosa lição para todos: é bom que a humanidade seja unida entendo-se por meio de um único linguajar. Esta linguagem é o dom das línguas que Deus dá à humanidade depois que salva por Jesus Cristo. É o que aconteceu em Pentecostes.
Porém, por “dom do Espírito Santo”, e “dom de línguas”, entende-se o Amor de Deus que une todas as pessoas. Podemos imaginar a humanidade hoje entendendo-se pelos sinais do amor mútuo entre todas as pessoas da terra.
Cada um pode continuar falando sua língua, mas “a língua” por excelência, a que une realmente é o Amor que o Espírito Santo derramou em nossos corações, como diz São Paulo em Rm 5,5.
Prova de que o Amor de Deus, a Caridade entre Deus e todas as pessoas da terra é o dom por excelência do Espírito Santo, está em 1Cor 13,1:
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver Amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Salmo Responsorial: Sl 103(104),1.24-34.
Enviai o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai.
(Refrão do Salmo Responsorial).
O dom da existência de todos os seres que habitam a Terra é dado por Deus, como diz o Salmo: “Se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam ao pó de onde vieram” [Sl 103(104),29bc].
Por qual motivo Deus dá o dom de existência a todas as suas criaturas?
O Salmo não nos diz que é porque Deus ama suas criaturas. Mas a Liturgia de Pentecostes está precisamente para nos dizer isto. Pois continua o Salmo:
“Enviais o Vosso Espírito e elas renascem e da terra toda a face renovais”. [Sl 103(104),30].
 Ora, o Espírito de Deus é o Espírito do amor de Deus por suas criaturas. Se Deus não as amasse não as faria existir.
Por detrás destas palavras está a profecia da Ressurreição que Deus deu primeiro ao homem Jesus, Seu Filho, e da ressurreição que Deus dará a todos os seres humanos, como participação da Ressurreição de Jesus.
O Espírito de Amor de Deus vivifica todas as criaturas de Deus.
O Espírito do Amor de Deus afasta a morte e enche a Terra de vida.
Esta é a figura da Vida Eterna futura prometida a todos nós.
Meditemos em oração estas verdades.
Segunda Leitura: 1Cor 12,3b-7.12-13.
... todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo e todos nós bebermos de um único Espírito.
(1Cor 12,13).
A ação do Espírito Santo está presente entre nós, mesmo que não a percebamos sensivelmente.
São Paulo, nesta Segunda Leitura, nos diz que o Espírito Santo reúne todos os cristãos pelo único Amor a Deus tal como revelado por Jesus Cristo.
Ora, esta comunidade unida pelo amor a Deus não é uma simples sociedade humana. É um “Corpo” onde o Espírito Santo habita e do qual Cristo é a cabeça. É o que São Paulo nos diz em Cl 1,18: “Ele é a cabeça do corpo, da Igreja...”.
E em 1Cor São Paulo nos diz: ... todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito para formarmos um único corpo e todos nós bebermos de um único Espírito.
Em outras palavras: São Paulo afirma que este Corpo único, alimentado pelo Amor de Deus dado por Seu Espírito Santo, faz de todos nós membros de Cristo, apesar de toda diversidade linguística ou cultural que possa continuar existindo entre nós.
Embora isto pareça contraditório, é a verdade tal como Deus a vê.
Nesta Leitura São Paulo não diz que são eliminadas as diferenças linguísticas e culturais entre todos os povos da terra. Ele diz que Deus tem o poder de mandar seu Espírito Santo para fazer uma unidade fundamentada em outro princípio unificador: o Amor com que a Santíssima Trindade se ama e permanece unida em suas Três Pessoas.
E este Amor é o Espírito Santo.
É este Amor que une o céu com a terra.
Evangelho: Jo 20,19-23.
“Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados ...”.
(Jo 20,22c-23b).
Na tarde do dia de Páscoa Jesus apareceu aos discípulos reunidos no cenáculo.
Ele veio lhes dar o prometido Consolador, o Espírito Santo.
Mas não O deu simplesmente porque O prometera, e sim para que o Espírito Santo agisse na comunidade de fé retirando todos os impedimentos que o pecado da humanidade põe contra a união entre o Céu-Deus e a Terra-humanidade. Por isso Jesus diz, depois de lhes dar o Espírito Santo: ... “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados”.
O desejo ardente de Deus, pelo amor que tem por suas criaturas, é que todas voltem a Ele. Para isto, os pecados tem que ser perdoados. E é por isto que o Pai manda que o Filho derrame o Amor divino sobre a humanidade na pessoa do Espírito Santo.
Uma vez dado o Espírito Santo, toda a face da terra se renova: os pecados são perdoados. O único impedimento ao amor pleno de Deus por suas criaturas é tirado e anulado. Agora reina o Amor de Deus em meio à humanidade pela presença do Espírito Santo.
Concluamos nossa meditação sobre Pentecostes com este texto de Atenágoras, que foi Patriarca ecumênico de Constantinopla:
Sem o Espírito Santo:
Deus está longe,
O Cristo permanece no passado,
O Evangelho é letra morta,
A Igreja é uma simples organização,
A autoridade é uma dominação,
A missão é propaganda,
O culto é uma velharia e
O agir cristão uma obra de escravos.
Mas, no Espírito Santo:
O cosmo é enobrecido pela geração do Reino de Deus sobre toda a Criação,
O homem está em combate contra a carne,
O Cristo ressuscitado torna-se presente,
O Evangelho se faz poder e vida,
A Igreja realiza a comunhão trinitária,
A autoridade se transforma em serviço que liberta,
A missão é um Pentecostes,
A liturgia é memorial e antecipação,
O agir humano é deificado.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Descobrindo a Bíblia
O sopro de Deus no Universo: o Salmo 104
Por estes dias, celebramos Pentecostes. Quero focalizar o salmo de meditação da liturgia, o Salmo 104 (103 na numeração latina).
“Este hino ao Criador e Conservador do universo representa um comentário poético do primeiro capítulo do Gênesis: o mundo inanimado a serviço do mundo animando, ambos a serviço do homem, rei da criação, e, por ele e com ele, a serviço de Deus. Em sua obra maravilhosa transparece a deslumbrante grandeza do Criador, sua magnificência, sua bondade e seu poder. Tudo é maravilhoso, porque tudo é reflexo da sabedoria divina. Depois de criar o universo, deu-lhe vida, e esta se renova incessantemente por seu sopro vivificante. Tudo leva o selo de uma finalidade concreta, o que supõe ordem, beleza, bondade e harmonia. Só o pecado, rebeldia contra Deus, introduz a desordem no cosmo; por isso, o salmista, ao término de seu magnífico hino, deseja que desapareçam os pecadores e os ímpios que, com suas ações torpes, desafinam na grande orquestra da criação.” (L.I. Stadelmann. Os Salmos: estrutura, conteúdo e mensagem. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 385.)
Os versículos 1-4 evocam a majestade de Deus; 5-9 descrevem a criação da terra por ele realizada, e 10-18 a vida na terra, terminando na evocação dos hiracóides brincando entre as rochas (o “hírax” é um herbívoro muito típico da Palestina, parecido com um grande coelho de orelhas curtas, vivendo em colônias bem organizadas, com guardas, espias, etc., e extremamente divertido de se observar, desde que o bicho tenha confiança no observador...). Os vv. 19-23 descrevem o ciclo do tempo, com seus diversos significados: os dias, para as festas; as noites, para os animais das florestas saírem de suas tocas em busca de presa...
Depois da exclamação de admiração do v. 24, vem a descrição de uma criatura que ocupava intensamente a imaginação dos antigos israelitas: o mar, sempre em movimento, por abrigar o monstro marítimo Leviatã, temido pelos marinheiros, considerado um deus por outros povos... Segundo nosso salmista, porém, Deus o criou “para brincar com ele” (ou “para nele folgar”) (v. 26). Semelhante imagem da criação como “brincadeira” encontra-se em Pr 8,30-31 (a Sabedoria brincando/folgando junto de Deus no momento da criação).
Em 27-30, descreve o “sopro/espírito” vital que Deus comunica às criaturas (razão por que este Salmo se canta na festa de Pentecostes, festa do Divino Espírito Santo). Sem este sopro de Deus, os seres vivos não podem subsistir. Estes versículos constituem o auge da descrição da criação, antes dos vv. 31-35, a louvação final (incluindo uma maldição contra os ímpios que estragam a maravilhosa obra de Deus). A última palavra é ígual à primeira: “Bendize o Senhor, ó minh’alma”.
Como dissemos, o Salmo aparece na liturgia de Pentecostes por causa de sua referência ao sopro/espírito de Deus que alenta os seres vivos (vv. 27-30). É uma expressão da consciência de que a vida pertence a Deus. Ninguém se criou a si mesmo. O salmista lembra que Deus fornece o alimento para viver, aos que contam com isso, no devido tempo (vv. 27-28). A presença (a “face”) de Deus é vital para ficarmos em vida (v. 29).
Misterioso é o v. 30: “Envias teu sopro/espírito e eles são (re)criados, e renovas a face da terra”. Só podemos entender esta frase se concebemos a criação como uma ação contínua de Deus. Deus não se aposentou depois do sexto dia da criação (Gn 2,3). Ele continua enviando o espírito criador que estava sobre o caos no início da criação (Gn 1,2). No evangelho de João, Jesus defende expressamente esta teologia da criação contínua, para justificar a cura que ele realizou num dia de sábado: “Meu Pai trabalha até agora e eu também estou trabalhando” (Jo 5,17). Podemos ter confiança: Deus não se aposentou; seu sopro continua sempre alentando a vida em nós...

Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

Nenhum comentário:

Postar um comentário