domingo, 9 de abril de 2017

Liturgia do dia 09/04/2017

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Leituras
Is 50,4-7
Sl 21,8-9.17-18a.19-20.23-24 (R.2a)
Fl 2,6-11
Mt 26,14-27,66
Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor - Ano A
Domingo
Evangelho Do Domingo de Ramos ( Mt 21,1-11)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo † segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, 1Jesus e seus discípulos aproximaram-se de Jerusalém e chegaram a Betfagé, no monte das Oliveiras. Então Jesus enviou dois discípulos, 2dizendo-lhes: “Ide até o povoado que está ali na frente, e logo encontrareis uma jumenta amarrada, e com ela um jumentinho. Desamarrai-a e trazei-os a mim!
3Se alguém vos disser alguma coisa, direis: ‘O Senhor precisa deles’, mas logo os devolverá’”.
4Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta:
5Dizei à filha de Sião: Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta”.
6Então os discípulos foram e fizeram como Jesus lhes havia mandado.
7Trouxeram a jumenta e o jumentinho e puseram sobre eles suas vestes, e Jesus montou.
8A numerosa multidão estendeu suas vestes pelo caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho.
9As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”
10Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: “Quem é este homem?”
11E as multidões respondiam: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor!
Primeira Leitura: Is 50,4-7
4 O Senhor Javé deu-me uma língua de discípulo, para eu confortar com a palavra o que está cansado. Ele desperta cada manhã meus ouvidos, para eu ouvir como os discípulos. 5 O Senhor Javé abriu-me o ouvido: não resisti nem recuei para trás. 6 Entreguei minhas costas aos que me batiam, as faces aos que me arrancavam a barba. Não desviei minha face dos que me injuriavam e cuspiam. 7 O Senhor Javé será meu protetor, por isso não serei confundido. Tornei minha face dura como pedra e sei que não ficarei envergonhado.
Salmo: Sl 21,8-9.17-18a.19-20.23-24 (R.2a)
R. Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
8 Todos os que me veem me desprezam, abanam entre risos a cabeça: 9 “Ele em Deus confiou, Deus o liberte, e o tire de onde está, se o ama tanto!”
17 Pois inúmeros cães giram-me em torno, bandos de malfeitores me rodeiam.
18 Furaram minhas mãos, meus pés
19a repartem entre si as minhas vestes, sorteiam entre eles minha túnica. 20 Mas tu, Senhor, não fiques longe assim; ó minha força, corre em meu socorro!
23 Anunciarei teu nome aos meus irmãos, louvar-te-ei no meio da assembleia. 24 Vós, que temeis a Deus, louvai-o todos; estirpe de Jacó, glorificai-o, temei-o vós, linhagem de Israel!
Segunda Leitura: Fl 2,6-11
Jesus Cristo 6 subsistindo como imagem de Deus, não julgou como um bem a ser conservado com ciúme sua igualdade com Deus, 7 muito pelo contrário: ele mesmo se reduziu a nada, assumindo condição de servo e tornando-se solidário com os homens. E sendo considerado homem, 8 humilhou se ainda mais, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz! 9 Por isso é que Deus o exaltou grandemente e lhe deu um nome que está acima de todo nome, 10 para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra, 11 e toda língua proclame, para glória de Deus Pai: “Jesus Cristo é o Senhor!”.
Evangelho: Mt 26,14-27,66
14 Então, um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, procurou os sacerdotes-chefes. 15 E lhes propôs: “Quanto me quereis pagar para eu o entregar a vós?”. Eles lhe garantiram dar trinta moedas de prata. 16 E desde aquele momento, ele procurava uma boa ocasião para o entregar. 17 No primeiro dia da festa dos pães sem fermento, os discípulos foram dizer a Jesus: “Onde queres que te preparemos o necessário para comer a Páscoa?”. 18 Ele respondeu: “Ide à cidade, à casa de fulano de tal, e dizei-lhe: O mestre manda avisar: O meu tempo está próximo. Quero celebrar em tua casa a ceia pascal com os meus discípulos”. 19 Os discípulos fizeram como Jesus lhes tinha ordenado, e prepararam a ceia pascal. 20 Chegada a tarde, ele se pôs à mesa em companhia dos Doze. 21 Enquanto comiam, disse: “Eu vos declaro esta verdade: um de vós me trairá”. 22 Profundamente entristecidos, cada um começou a perguntar: “Senhor, por acaso serei eu?”. 23 Ele respondeu: “Quem me há de trair é o que acabou de colocar a mão comigo no prato. 24 O Filho do homem vai embora como está escrito a seu respeito. Mas ai daquele pelo qual o Filho do homem está sendo traído! Melhor seria para ele não ter nascido!”. 25 Por sua vez, Judas, que o traiu, perguntou-lhe: “Mestre, serei eu por acaso?”. Respondeu Jesus: “Tu mesmo acabas de dizer”. 26 Ora, durante a ceia, Jesus tomou o pão e, tendo dito a fórmula da bênção, partiu-o e o distribuiu aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, comei. Isto é o meu corpo”. 27 Em seguida, tomando o cálice, deu graças e o entregou, dizendo: “Bebei todos dele, 28 porque este é o meu sangue, o sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos para a remissão dos pecados. 29 Entretanto, vos declaro: não beberei mais deste fruto da videira, até o dia em que eu beber o vinho novo convosco no reino do meu Pai”. 30 Depois de terem cantado os Salmos, saíram em direção ao Monte das Oliveiras. 31 Jesus lhes disse: “Todos vos escandalizareis por minha causa esta noite, porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. 32 Mas, depois que houver ressuscitado, eu vos precederei na Galileia”. 33 Tomando então a palavra, Pedro lhe disse: “Embora todos se escandalizem por tua causa, eu jamais me escandalizarei”. 34 Jesus respondeu: “Eu vos declaro esta verdade: nesta mesma noite, antes de o galo cantar, tu me renegarás três vezes”. 35 Mas Pedro continuou: “Ainda que eu deva morrer contigo, não te renegarei!”. E todos os outros discípulos disseram a mesma coisa. 36 Então Jesus chegou com eles a um sítio chamado Getsêmani e disse aos discípulos: “Sentai-vos aqui, enquanto vou ali rezar”. 37 Levou consigo Pedro, mais os dois filhos de Zebedeu, e começou a sentir tristeza e angústia. 38 Disse-lhes: “A minha alma está envolta numa tristeza mortal. Ficai aqui e vigiai comigo”. 39 Adiantou-se um pouco e caiu com o rosto por terra, fazendo esta prece: “Meu Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice! Entretanto, não se faça como eu quero, mas como tu queres!”. 40 Voltando em seguida aos discípulos, encontrou-os dormindo. E disse a Pedro: “Mas não fostes capazes de vigiar uma hora comigo? 41 Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. 42 Afastou-se de novo uma segunda vez, para rezar: “Meu Pai, dizia ele, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, faça-se a tua vontade”. 43 Em seguida, voltou e os encontrou novamente dormindo, porque os seus olhos estavam pesados de sono. 44 Deixou-os e foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Depois, foi ter uma vez mais com os discípulos. 45 E lhes disse: “Continuai a dormir e descansai. Eis que chegou a hora na qual o Filho do homem será entregue às mãos dos pecadores…46 Levantai-vos! Vamos! Eis que está chegando aquele que me atraiçoa”. 47 Ainda falava, quando chegou Judas, um dos Doze, acompanhado por muita gente com espadas e bastões, enviada pelos sacerdotes-chefes e anciãos do povo. 48 Ora, o traidor lhes havia indicado esta senha: “Aquele que eu beijar é ele. Prendei-o!”. 49 E logo se aproximou de Jesus, dizendo: “Salve, Mestre”. E o beijou. 50 Mas Jesus lhe disse: “Amigo, para isto é que vieste?”. Aproximaram-se, então, lançaram as mãos em Jesus e o prenderam. 51 E aconteceu que um daqueles que estavam com Jesus, levando a mão à espada, desembainhou- a e feriu o servidor do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha. 52 Mas Jesus lhe disse: “Embainha de novo tua espada! Porque todos aqueles que usam da espada pela espada morrerão! 53 Será que pensas que eu não posso recorrer a meu Pai, que me daria num momento mais de doze legiões de anjos? 54 Mas como então se cumpririam as Escrituras, segundo as quais é necessário que tudo isto aconteça?”. 55 Naquela mesma hora disse Jesus à multidão: “Saístes como quem procura um bandido, com espadas e bastões para me prender. Todos os dias eu estava sentado e ensinando no Templo e não me prendestes”. 56 Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos Profetas. Então todos os seus discípulos o abandonaram e fugiram. 57 Os que tinham prendido Jesus conduziram-no à casa do Sumo Sacerdote Caifás, onde se tinham reunido os mestres da lei e anciãos. 58 Pedro, entretanto, o seguira de longe até o palácio do Sumo Sacerdote. Tendo entrado, sentou-se com os guardas para ver no que ia dar aquilo. 59 Os sacerdotes-chefes e todo o Sinédrio estavam à procura de um falso testemunho contra Jesus, para poderem condená-lo à morte. 60 Mas não o conseguiram, embora muitas falsas testemunhas se tivessem apresentado. Afinal, apresentaram-se duas. 61 Elas declararam: “Este homem afirmou: ‘Eu posso destruir o Templo de Deus e reedificá-lo em três dias!’”. 62 Levantando-se, disse-lhe o Sumo Sacerdote: “Nada tens para responder? Que é que estes depõem contra ti?”. 63 Mas Jesus permanecia calado. Então, o Sumo Sacerdote lhe disse: “Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se és o Messias, o Filho de Deus”. 64 Jesus respondeu: “Tu mesmo acabaste de dizer. Eu somente vos declaro: de agora em diante vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”. 65 Então, o Sumo Sacerdote rasgou as suas vestes exclamando: “Blasfemou! Que necessidade temos ainda de testemunhas? Acabais de ouvir a blasfêmia! 66 Que vos parece?”. Eles responderam: “É réu de morte!”. 67 Então, cuspiram no seu rosto e cobriram-no de socos. Outros lhe davam bordoadas. 68 E lhe diziam: “Mostra que és profeta, ó Cristo: adivinha quem foi que te bateu!”.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2017 - Ano A - São Mateus, Brasília, Edições CNBB, 2016.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
DE AGORA EM DIANTE VEREIS O FILHO DO HOMEM SENTADO À DIREITA DO TODO-PODEROSO, VINDO SOBRE AS NUVENS DO CÉU. (Mt 27,64)
Primeira Leitura: Is 50,4-7.
... o Senhor Deus é meu auxiliador,
por isso não me deixei abater o ânimo...
... não sairei humilhado. (Isaías 50,7).
A liturgia do Domingo de Ramos abre a Semana Santa com a alegria que se apoderou do povo de Jerusalém diante dos prodígios, milagres de curas e ressurreição que Jesus realizou.
Jerusalém reconheceu em Jesus seu Messias.
O Povo de Deus acreditou no Reino de Deus que Jesus havia pregado todos aqueles anos.
Eles viam em Jesus a manifestação da Glória de Deus.
Deixemo-nos mover pelo entusiasmo e alegria de Jerusalém.
Sabendo que Jesus vai rumo à morte, não nos esqueçamos da mensagem de otimismo que a Liturgia deste domingo nos dá. Este otimismo é todo teologicamente bem aprofundado em todas as Leituras e no Salmo de hoje.
A Primeira Leitura é de Isaías 50,4-7, que é um dos hinos do Servo de Javé.
O Servo de Javé, figura misteriosa nos escritos de Isaías, é a figura do homem que se oferece a Deus para a remissão dos pecados de Seu Povo. Embora sua morte seja dolorosa porque considerado criminoso por seus inimigos, na verdade sua morte é a vitória de Deus em sua obra salvadora.
Assim também a Liturgia nos mostra a morte à qual Jesus Cristo vai se entregar. Embora condenado como um criminoso pelo tribunal humano dos líderes judeus, sua Morte será a gloriosa manifestação do poder salvador de Deus para toda a humanidade.
Jesus não é perdedor mesmo sendo sofredor e necessitado da ajuda do Pai.
Ele é o vencedor da injustiça dos homens e do poder da morte que se abate sobre toda a humanidade pecadora.
Consideremos, portanto, neste Domingo de Ramos, a manifestação da Glória de Deus em Jesus Cristo depois que padece sobre a cruz sua Morte redentora.
Na mente de Jesus Cristo jamais passou a ideia de uma morte vergonhosa ou sem sentido.
Ele vai à morte gloriosa, sem medo, sem hesitação, em pleno cumprimento amoroso da vontade do Pai.
Em união com Jesus neste momento, ouçamo-Lo dizendo as mesmas palavras do Servo de Javé:
... o Senhor Deus é meu auxiliador,
por isso não me deixei abater o ânimo ...
... não sairei humilhado. (Isaías 50,7).
Humilhado pelos líderes judeus, Jesus saboreia antecipadamente a vitória de Deus em sua Morte.
Permaneçamos unidos a Jesus enquanto ouvimos esta Primeira Leitura, pedindo-lhe compaixão por sua dor e alegria por sua futura vitória.
Salmo Responsorial: Sl 21(22),8-24.
...ó Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro! [Sl 21(22),20.].
A natureza humana do Filho de Deus sentiu dor e sofrimento no momento em que teve a certeza de que seria condenado à morte pelos líderes de Jerusalém.
O Salmo Responsorial de hoje se aplica a Jesus: é uma lamentação diante de Deus, pedindo força e conforto nos sofrimentos que estão para chegar.
É precisamente este sentimento que tomou conta de Jesus e o levou a rezar no Monte das Oliveiras durante sua agonia. Podemos entender como sua oração o que o Salmo diz em seu versículo 20: ... ó Senhor, não fiqueis longe, ó minha força, vinde logo em meu socorro!
No mais profundo sofrimento toda pessoa tem a sensação de estar entregue a si mesma. Jesus sentiu o mesmo diante da morte. Ele recorreu ao Pai: ... ó Senhor, não fiqueis longe.
Na certeza de que não podia contar com ajuda humana alguma diante de seus inimigos, Jesus pediu ao Pai: ó minha força, vinde logo em meu socorro!
Meditemos todo este Salmo, como pedidos e súplicas saídas da boca de Jesus.
Sintamo-nos junto a Ele para O consolar em seu sofrimento.
Segunda Leitura: Fl 2,6-11.
.. humilhou-Se a Si mesmo,
fazendo-Se obediente até a morte,
e morte de cruz. (Fl 2,8).
Esta Segunda Leitura traz a riqueza espiritual, litúrgica e teológica dos primeiros cristãos. É um hino que a comunidade de Filipos cantava em sua liturgia.
Com os primeiros cristãos, entremos na atmosfera do sofrimento aceito por Jesus em sua entrega à morte, por decisão livre, e livre porque por amor ao Pai, no cumprimento de Sua Vontade.
O hino diz que Jesus fez-Se obediente até morrer, e numa morte de cruz.
Obediente até a morte é quem ama a Deus perfeitamente como Jesus amou.
Morte de cruz é a morte de quem merecia o ódio de seus acusadores. Aceitá-la livremente somente foi possível a Jesus pelo seu amor infinito ao Pai e aos homens que assim estava para salvar.
O que permanece de tudo o que lemos neste hino sobre Jesus?
Antes de tudo o amor de Jesus ao Pai, amor que O levou à absoluta obediência.
O Amor de Jesus ao Pai foi mais forte que seu temor da morte.
É neste amor de Jesus ao Pai que devemos nos deter, lembrando-nos que Jesus não só ensinou a cumprir perfeitamente o Primeiro Mandamento, como nos ensinou a cumpri-lo na oração do Pai-Nosso: ... seja feita a Vossa Vontade.
E, como a comunidade de Filipos, lembremo-nos: a morte de Jesus não ficou sem sentido. Deus a aceitou como remissão dos pecados de toda a humanidade.
Deus premiou Seu Filho dando-lhe o título do Poder: Senhor (Fl 2,11).
Como Senhor Jesus voltará no fim dos tempos sobre as nuvens do céu, com poder de juiz. Será o momento em que julgará os que o condenaram à morte. Ele os julgará com justiça divina, dando-lhes a pena merecida por não O terem aceitado, pois Ele mesmo lhes revelara que era o Filho de Deus (Mt 27,64).
Evangelho: Mt 26,14 - 27,66.
... de agora em diante vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso,
vindo sobre as nuvens do céu. (Mt 27,64).
Todo o Evangelho de hoje é sobre a condenação, morte e sepultamente do Jesus.
Sua longa leitura nos introduz no ambiente espiritual das primeiras comunidades cristãs, as primeiras a ouvir estes relatos oralmente, em suas longas vigílias, e depois, por escrito, como ficou nos Evangelhos Sinóticos.
Porém não devemos esquecer o otimismo que esta condenação, morte e sepultura de Jesus nos lembram: foi tudo cumprimento da vontade de Deus Pai no fim da vida humana de Cristo.
Assim, entre tantos pensamentos e sentimentos que este Evangelho provoca em nós, retenhamos o pensamento da vitória prenunciada por Jesus quando disse a seus juízes injustos:
... de agora em diante vereis o Filho do Homem
sentado à direita do Todo-poderoso, vindo sobre as nuvens do céu. (Mt 27,64).
Mantenhamos nossa mente e nosso coração fixos nestas palavras de Jesus.
Assim celebraremos este Domingo de Ramos de maneira espiritual adequada: sentindo dor com o Cristo doloroso, e alegria com o Filho de Deus vitorioso sobre a morte, para ressuscitar e nos dar a participação em Sua ressurreição. E, em Seu retorno glorioso, no fim dos tempos, Ele nos levará ao céu consigo.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
Os cânticos do Servo no “Segundo Isaías”
No domingo de Ramos, a liturgia nos faz ouvir Is 50,4-7. É o terceiro dos quatro “Cânticos do Servo” que estão inscrustdos na segunda parte da profecia de Isaías (Is 40–55). Vale a pena observar o conjunto dos quatro cânticos. Por terem sido integrados no meio das outras palavras da profecia, é difícil delimitar os cânticos exatamente, mas podemos lhes atribuir, com bastante segurança, os seguintes versículos: (1) Is 42,1-7; (2) 49,1-6; (3) 50,4-9; (4) 52,13–53,12.
Inicialmente, lembramos que o livro de Isaías se divide em três partes, recolhidas pela “escola” do grande profeta em diversas épocas. A primeira parte, o “proto-Isaías” (Is 1–39), recolhe as palavras originais do grande profeta, pronunciadas entre 750 e 700 a.C. A segunda parte, o “Dêutero-Isaías” (Is 40–55), contém profecias dirigidas aos judeus exilados na Babilônia, quando despontava a hora de sua volta por ordem do rei persa Ciro — que inclusive chega a ser chamado “servo” de Deus (43,10; 45,1). A terceira parte, o “Trito-Isaías” (Is 56–66), contém exortações proféticas aos judeus depois de sua volta a Jerusalém, para restaurar o povo de Deus na justiça.
Os quatro cânticos são poesia. Suas palavras não são unívocas. Conotam-se sons harmônicos. O “servo” é ora um indivíduo, ora a comunidade do povo, ora um nobre servidor, ora um escravo. Mas todas essas significações têm algo a nos dizer.
No primeiro cântico (42,1-7), Javé apresenta seu “servo” — termo que aqui parece um título de nobreza. Sobre ele repousa o espírito de Deus. Ele tem de instruir os povos na justiça e no direito, mas sem alarde nem violência, usando a arma da persuasão. Ele estabelecerá a justiça (a reta prática conforme a vontade de Deus), será a encarnação de uma aliança de Deus com o povo de Israel, uma luz para as nações (pagãs), e iluminará cegos e presos nas masmorras escuras.
No segundo cântico (49,1-6) é o Servo que fala. É um enviado de Deus com a missão de disciplinar e de castigar a injustiça. Foi rejeitado. Mas agora Deus lhe diz que é pouca coisa restaurar só Israel: tem de ser uma luz para os povos, a fim de que por ele a salvação atinja os confins da terra.
No terceiro cântico (50,4-9), o Servo fala dos maus tratos que tem de suportar por causa da fiel execução de sua missão. Continua, contudo, confiante em Deus que lhe dará a vitória. Este cântico, em que o Servo é apresentado como um “discípulo” de ouvido aberto, foi depois completado com uma exortação a escutar a sua voz (50,10).
O quarto cântico (52,13–53,12) é o mais conhecido e o mais dramático. Descreve o sofrimento indizível do Servo. Cinco vezes se diz que ele sofreu por outros (“muitos”), que foi condenado à morte e sua vida interrompida, mas Deus está a seu lado e recompensa seu sofrimento em prol dos outros, concedendo a “muitos” a justificação. É um fato paradoxal, que deixará pasmos reis e poderosos. Depois de sua aniquilação (não se pode dizer com certeza se se trata de uma morte consumada), ele é restabelecido por Deus e recebe uma descendência numerosa. Como muitos termos neste poema são alegóricos, também essa descendência numerosa pode ser alegórica; é assim que muitos teólogos a interpretaram, pensando nos justos, nos fiéis.
Apesar de todas as dificuldades que os textos apresentam, percebemos os contornos gerais de um verdadeiro “servo” de Deus: um profeta a serviço da justiça no sentido de vontade de Deus, obediente (“presta ouvido”), não violento (pois Deus não conquista as pessoas pela força, mas pelo interior), fiel, desprendido de si a ponto de morrer pelos outros, se for o caso.
Muitos séculos depois da composição destes cânticos, os seguidores de Jesus de Nazaré reconheceram aí o retrato de seu mestre. Em Jesus enxergamos concretamente o que os poetas destes versos, não sem certa opacidade, intuíram.
Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

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