sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Liturgia do dia 04/02/2018


Liturgia do dia 04/02/2018


Leituras
Jó 7,1-4.6-7
Sl 146(147),1-2.3-4.5-6 (R/. cf. 3a)
1Cor 9,16-19.22-23
Mc 1,29-39 (Curas na Galileia)

5ª semana do Tempo Comum - Ano B

Domingo

Primeira Leitura: Jó 7,1-4.6-7

Jó disse:1 Não é, acaso, uma luta a vida do homem sobre a terra? E como os dias do mercenário não são, talvez, os seus dias? Como o escravo que suspira pela sombra e como o operário que espera o seu salário, 3 assim eu partilhei meses de desilusão, e destinadas me foram noites penosas. 4 Ao deitar-me, exclamo: ‘Quando chegará o dia?’ Ao levantar-me: ‘Quando será noite?’ E invadem-me divagações até o crepúsculo! 6 Mais velozes que a lançadeira se foram meus dias e consomem-se num nada de esperanças. 7 Lembra-te! Minha vida é um mero sopro: os meus olhos não reverão a felicidade.

Salmo: Sl 146(147),1-2.3-4.5-6 (R/. cf. 3a)
R. Louvai a Deus, porque ele é bom e conforta os corações.
1 Oh, louvai ao Senhor, é bom louvá-lo. Cantai ao nosso Deus, porque é suave. 2 Reergueu o Senhor Jerusalém, juntou os deportados de Israel.

3 Aos corações partidos ele cura, vai as suas feridas medicando. 4 Quantas são as estrelas que ele conta e chama cada uma por seu nome.

5 Onipotente e grande é o nosso Deus, sua sabedoria é ilimitada. 6 É o Senhor que sustenta os pequeninos, mas dobra até o chão os criminosos.
Segunda Leitura: 1Cor 9,16-19.22-23

Irmãos:16 De fato, anunciar o Evangelho não é para mim um motivo de glória, porque é uma obrigação que foi imposta. E ai de mim se não anunciasse o Evangelho! 17Se eu evangelizasse por minha própria iniciativa, teria direito a uma recompensa. Se não o faço por minha iniciativa, realizo um cargo que me é confiado. 18 E, neste caso, qual é o meu mérito? É o de oferecer o Evangelho gratuitamente em minha pregação, renunciando ao direito que me é dado pelo Evangelho. 19Deste modo, livre em relação a todos, eu me fiz escravo de todos, para ganhar o maior número possível. 22 Fiz-me um fraco com os fracos para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para a todo o custo salvar alguns. 23 E faço tudo isto pelo Evangelho, para ter parte nele.
Evangelho: Mc 1,29-39 (Curas na Galileia)
Naquele tempo, Jesus 29 saindo da sinagoga, foi com Tiago e João à casa de Simão e André. 30 A sogra de Simão estava de cama, com febre, e logo lhe falaram dela. 31 Aproximando-se, ele a tomou pela mão e a fez se levantar. A febre passou e ela começou a servi-los. 32Caindo a tarde, já depois do pôr do sol, trouxeram para junto dele todos os doentes e possessos: 33 toda a população estava reunida na entrada da cidade. 34 Ele curou muitos doentes, atacados de diversas enfermidades, e expulsou muitos demônios. Mas não permitia que os demônios falassem, porque sabiam quem era ele. 35 De madrugada, ele se levantou muito antes de raiar o dia, e saindo para um lugar deserto, ali ficou rezando. 36 Simão e seus companheiros foram procurá-lo.37 Quando o acharam, disseram-lhe: “Todos estão à sua procura”. 38 Ele lhes respondeu: “Vamos por aí afora, aos povoados vizinhos, para que eu pregue também por lá, porque foi para isso que eu saí”. 39 E saiu pregando pelas sinagogas, em toda a Galileia, e expulsava os demônios.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2018 - Ano B - São Marcos, Brasília, Edições CNBB, 2017.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
ELE CONFORTA OS CORAÇÕES DESPEDAÇADOS, ELE ENFAIXA SUAS FERIDAS E AS CURA. [SL 146(147),3]
Por experiência própria todos nós sabemos o que é o sofrimento.
Sofrem todas as pessoas da terra, ao longo de toda a sua vida.
A pergunta pela causa do sofrimento é contínua. A humanidade se pergunta por isto deste o início de sua origem. Cada religião e cada filosofia tem suas respostas.
Por outro lado, toda a humanidade procura ansiosamente pela felicidade. E também neste caso, cada religião e cada filosofia têm suas respostas.
Qual resposta temos nós, os cristãos, seguidores de Jesus Cristo?
Aprendemos que o sofrimento surgiu no rompimento dos primeiros pais, Adão e Eva, com a amizade de Deus. O pecado deles está no começo da humanidade, na origem de cada um de nós. E juntamente com o pecado, veio a pena merecida por ele. Esta pena se chama sofrimento em todas as suas formas.
Lemos em Gn 3,19:
Com o suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás.
Haveria, nesta situação, alguma esperança de retorno à felicidade ideal do paraíso terrestre?
Em Gênesis 1 nem mesmo o sofrimento supremo, a morte, é mencionada. Somente vida e felicidade eram a constante na existência de Adão e Eva. Deus não criou a humanidade para a morte. Mas pelo pecado ela entrou no mundo.
E todos somos mortais agora. Quando nos livraremos da morte?
Quando retornaremos à felicidade em que viviam Adão e Eva no paraíso?
Todas estas interrogações são necessárias para entendermos a Liturgia da Palavra deste Quinto Domingo do Tempo Comum.
Imaginemos o que se passou pelo coração misericordioso de Deus diante do sofrimento da humanidade que Ele, por amor, criou.
Deus não se conforma com esta situação.
Ele foi sempre o primeiro a querer reverter este quadro.
Ao nosso alcance está o ensino de Jesus sobre o perdão do pecado, das penas devidas a ele, do retorno à felicidade dos primeiros pais, e, mais do que tudo, da participação numa vida superior à simples vida humana: a participação da felicidade e imortalidade do próprio Deus, na Vida Eterna.
Se entendemos isto, entenderemos bem o que a Liturgia da Palavra deste domingo tem a nos ensinar.
Primeira Leitura é um trecho do Livro de Jó.
Sabemos como Jó, homem justo e cumpridor da vontade de Deus, foi provado com a lepra e todo o sofrimento físico e espiritual que esta doença provoca. Jó é a imagem do homem sofredor em sua condição humana.
Quando o livro de Jó foi escrito, não era clara a doutrina sobre a superação do pecado dos primeiros pais nem o Plano de Salvação elaborado por Deus desde toda a eternidade.
Para ele, homem fiel a Deus, o sofrimento que padecia não tinha uma causa justa, nem parecia ter fim. LeiamosJó 6,4:
4. Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me?
E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer.
Seus sofrimentos começaram ao deitar-se e ao levantar-se mais sofrimento o esperava até deitar-se novamente.
No entanto Jó permaneceu fiel a Deus e não pecou por causa de seus sofrimentos.
A finalidade deste livro, portanto, é nos mostrar que mesmo no sofrimento devemos manter nossa fé e fidelidade a Deus. O sofrimento dado a ele, por licença de Deus a Satanás, foi para provar a fé e a fidelidade de Jó. E uma vez que Jó aceitou seus sofrimentos como homem justo, Deus reconheceu-o como seu fiel servidor. Por isso, neste mundo mesmo, Deus o cumulou de recompensas humanas.
Nós vivemos hoje à espera da libertação de todos os sofrimentos e da própria morte.
Sabemos em Quem confiamos porque assim fomos instruídos em nossa fé cristã.
Sabemos que Jesus demonstrou, com as curas inúmeras de enfermos, que a causa dos sofrimentos, o pecado, estava perdoado por Deus uma vez que Ele, Jesus, deu sua vida para salvar dele todas as pessoas. Isto é claro no caso do paralítico curado em Cafarnaum, baixado do teto da casa de Pedro. Leiamos Mc 2,5.11:
5. Jesus disse ao paralítico: filho, os teus pecados estão perdoados.
11. Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
Primeiro Jesus perdoou os pecados do paralítico, causa de seus sofrimentos.
Depois lhe restituiu a felicidade de sentir-se reconciliado com Deus e poder andar normalmente.
Evangelho de hoje tem por objetivo mostrar-nos as inúmeras curas e exorcismos que Jesus fez. Na casa de Pedro, primeiro curou a sua sogra; e ao anoitecer levou muito tempo curando todos os doentes e possuídos pelo demônio (Mc 1,32). Foi um acontecimento que atraiu toda a cidade à porta da casa de Pedro (Mc 1,33). Jesus conseguiu um tempo, ainda naquela noite, para fazer suas orações ao Pai (Mc 1,35). Mas logo ao amanhecer uma multidão o procurava (Mc 1,37b).
No entanto, outra atividade de Jesus era igualmente importante: Ele devia pregar o Reino de Deus nas sinagogas. Portanto partiu de Cafarnaum percorrendo muitas cidades e aldeias da Galileia. Fora para isto que Ele viera ao mundo (Mc 1,38e).
Jesus veio ao mundo para pregar o Reino de Deus, reino em que Deus dá o perdão a todo pecador, restitui a imortalidade com que criara Adão e Eva. Somente bondade e felicidade encontramos no Reino de Deus.Pois é este o Reino de Verdade e Vida, de Santidade e Graça, de Justiça, Amor e Paz.
É a partir destes pensamentos que devemos considerar o Evangelho deste domingo.
Portanto meditemo-lo nesta Eucaristia e depois, em nossas casas: o fim do sofrimento de toda a humanidade está no perdão do pecado, na restituição da felicidade pela amizade com Deus, e por fim, na libertação definitiva da morte com a Vida Eterna que Jesus Cristo nos mereceu.
A tarefa de anunciar a todas as nações esta Boa Nova do perdão dos pecados e a Vida Eterna foi levada adiante pelos apóstolos de Jesus Cristo.
Na Segunda Leitura de hoje é São Paulo quem nos afirma como esta pregação era um dever que ele devia cumprir por ordem de Jesus, sem esperar neste mundo recompensa de tipo algum. De fato, em Corinto havia pessoas que desejavam ‘patrocinar’ a pregação de São Paulo, porque isto daria prestígio àquelas pessoas. Filósofos, artistas, curandeiros ambulantes eram assim ‘patrocinados’ por pessoas ricas daquele tempo. Era um costume romano.              

Como, porém São Paulo pregava o Evangelho de Jesus Cristo, que lhe fora dado de graça, nunca exigiu ‘patrocínio’ nem remuneração em dinheiro dos coríntios.
Ele quis, assim, deixar claro que a Salvação de todos os pecados e sofrimentos deste mundo é um dom gratuito de Deus aos homens.
E assim São Paulo conquistou milhares de pessoas, e terminou sua vida na maior pobreza. Os que, por meio de sua pregação, foram batizados, entraram na Igreja, viveram a felicidade de serem cristãos, aguardaram a Vida Eterna e a mereceram por terem sido santificados por Jesus Cristo.            

Sejamos gratos a Deus com as palavras do Salmo Responsorial
 de hoje:
Ele conforta os corações despedaçados, Ele enfaixa suas feridas e as cura [Sl 146(147),3].
E terminemos com felicidade nossa meditação sobre a Liturgia da Palavra de hoje, dizendo com o salmista:
Louvai o Senhor Deus, porque ele é bom, cantai ao nosso Deus, porque é suave:

Ele é digno de louvor, Ele o merece!
 [Sl 146(147),1].
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
Jesus, exorcista-milagreiro?
O que chama a atenção, no evangelho de Marcos, é que a atividade inicial de Jesus é descrita principalmente como a de um exorcista e milagreiro. É verdade que, no cap. 4, Jesus explica em parábolas o significado do Reino de Deus; mas devemos entender esse ensinamento exatamente como uma maneira para abrir os olhos dos discípulos a respeito daquilo que Jesus está fazendo. Pois Jesus está fazendo acontecer o reinado de Deus. A atividade peregrina de Jesus (caps. 1 a 10) está cheia de exorcismos (Mc 1,21-28; 1,34; 1,39; 3,11-12; 3,22; 5,1-20; 9,14-29) e de outras curas (1,29-31; 1,40-45; 2,1-12; 3,1-6; 3,7-10; 5,21-43; 7,24-30; 7,31-37; 8,22-26; 10,46-52) ou manifestações de poder sobre a natureza não-animada (4,35-41; 6,35-44; 6,45-52; 8,1-9). E quando ele envia seus discípulos para fazerem um estágio pastoral, dá-lhes o poder de curar e expulsar demônios (6,7.13). Os historiadores que vêem em Jesus, antes de tudo, um exorcista-milagreiro ambulante têm, em parte, razão. Mas essa atividade tem um sentido mais profundo: as curas de Jesus são gestos proféticos que significam a presença do reinado de Deus que traz o dom messiânico, a paz-felicidade (shalom) aos homens.

Algumas coisas em Marcos nos fazem cavoucar mais a fundo.

Jesus não faz milagres em Jerusalém (Mc 11–13), e só uns poucos em sua própria cidade, porque não encontra fé (Mc 6,5-6). Os milagres só têm sentido em diálogo com a fé.

Alguns milagres deixam transparecer uma segunda intenção, que bem pode ser a primeira. Quando ele cura o aleijado em Cafarnaum, isso serve de prova de que ele, o “Filho do Homem” (= enviado de Deus no tempo do Fim), pode perdoar os pecados. A cura do homem da mão atrofiada, Mc 3,1-6, realizada em dia de sábado, vem comprovar a palavra imediatamente anterior: “O Filho do Homem é Senhor também do sábado” — precedida, aliás, pelo princípio “humanista” de Jesus: o sábado é feito para o homem, e não o homem para o sábado. Quando ele expulsa demônios, estes reconhecem nele o enviado e Filho de Deus, e Jesus manda-os calar a boca, para que não lhe dêem publicidade: 1,25; 1,34; 3,12 — do mesmo modo como ele proíbe aos discípulos darem publicidade ao título de Messias (8,30) e ao fato de sua glorificação na montanha (9,9). Outros milagres são nitidamente didáticos: andando sobre as águas, Jesus quer vencer a incompreensão dos discípulos a seu respeito (6,51-52); nas multiplicações do pão, eles mesmos participam (6,37), mas não compreendem (8,14-21).

Parece, pois, que os milagres não esgotam o sentido da atividade de Jesus. São uma ocasião de manifestar sua missão como enviado e Filho de Deus, mas o que Jesus veio fazer mesmo é coisa bem superior aos milagres: o mesmo “Filho do Homem” que tem poder sobre demônios e doenças, sobre o sábado e o pecado, sobre o mar, a tempestade e o alimento, veio “não para ser servido, mas para dar sua vida para muitos” (10,45).

Os milagres apontam, em primeiro lugar, para o evangelho ou boa notícia trazida por Jesus: a chegada do Reino de Deus. Quando o povo conclui que “ele fez tudo bem” (7,37), exprime a felicidade de reconhecer no seu meio aquele que faz reinar a vontade de Deus como um projeto de salvação e felicidade. Os milagres de Jesus nunca são prejudiciais ao homem, como foram os milagres de Moisés (as pragas do Egito) e alguns dos milagres de Elias e Eliseu. Jesus usou sua capacidade extraordinária, que lhe permitia fazer milagres como nunca antes foram vistos, a serviço da mística e paixão que permeava sua vida: a vontade de Deus que é Pai e ternura de Mãe, o plano do amor de Deus. Aí está seu verdadeiro “poder-autoridade”, observado inicialmente pelos fiéis da sinagoga de Cafarnaum (1,27) e revelando-se finalmente como “poder-serviço” (10,45). Assim, os milagres não apenas ilustram que Jesus em pessoa encarna o Reino de Deus. Anunciam também o dom de sua própria vida.

Marcos nos ensina a ler a “reportagem” sobre Jesus (qualquer revista sensacionalista hoje gostaria de fazer uma reportagem sobre este milagreiro) como a revelação progressiva de alguém que é totalmente invadido e tomado pelo amor de Deus para com os mais abandonados dos homens: doentes mentais (considerados endemoninhados), leprosos, famintos, cegos... A ponto de dar sua própria vida “para muitos”, isto é, para todos que o quiserem aceitar.

Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

Nenhum comentário:

Postar um comentário