segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Liturgia do dia 07/10/2018


Liturgia do dia 07/10/2018


Leituras
Gn 2,18-24
Sl 127(128),1-2.3.4-5.6 (R/. cf. 5)
Hb 2,9-11
Mc 10,2-16

27º Domingo do Tempo Comum

Domingo

Primeira Leitura: Gn 2,18-24

18 Javé Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe um auxiliar que lhe convenha”. 19 Javé Deus plasmou do solo todos os animais do campo e todas as aves do céu. Conduziu-os à presença do homem, para ver que nome lhes daria: todo ser teria o nome que o homem lhe desse. 20 E o homem deu nomes a todos os animais domésticos, às aves do céu e a todos os animais do campo. Para o homem, todavia, ele não achou um auxiliar que lhe conviesse. 21 Então Javé Deus fez cair sobre o homem um sono profundo, e este adormeceu. Tirou-lhe uma costela e fechou de novo a carne em seu lugar. 22 Da costela que tirou do homem, Javé Deus edificou uma mulher e a apresentou ao homem. 23 O homem exclamou: “Desta vez, sim! É osso de meus ossos, e carne de minha carne! Esta se chamará Mulher, isto é, a humana, porque do homem foi tirada”. 24 É por isso que o homem deixará pai e mãe, e se apegará à sua mulher, e serão uma só carne.
Salmo: Sl 127(128),1-2.3.4-5.6 (R/. cf. 5)
R. O Senhor te abençoe de Sião, cada dia de tua vida.
1 Feliz és tu que temes o Senhor e andas no seu caminho! 2 Ganharão tuas mãos o pão que comes, e viverás feliz.

3 Tua esposa é a parreira carregada no coração da casa. Brotam teus filhos como as oliveiras em torno à tua mesa.

4 Eis com que bens será abençoado o que teme o Senhor! 5 De Sião te abençoe, e possas ver Jerusalém feliz; vê-la feliz ao longo dos teus dias

6 e os filhos de teus filhos! Paz sobre Israel!
Segunda Leitura: Hb 2,9-11
Irmãos: 9 verificamos isto: Jesus se tornou por um pouco de tempo inferior aos anjos, em razão da morte que suportou; vemo-lo coroado de glória e de honra, por causa de sua paixão e morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte em favor de todos. 10 Convinha, efetivamente, que Deus, a quem e por quem tudo foi criado, tornasse perfeito, mediante os sofrimentos, o chefe que devia guiá-los para a salvação. 11 Porque Jesus, o santificador, e os homens santificados têm todos a mesma origem divina. Eis por que ele não sente vergonha de dar-lhes o nome de irmãos.
Evangelho: Mc 10,2-16

2 Chegando uns fariseus, perguntaram a Jesus em forma de cilada: “É permitido ao marido se divorciar da mulher?”. 3 Mas ele por sua vez lhes perguntou: “Que é que Moisés determinou para vós?”. 4 Eles disseram: “Moisés permitiu lavrar uma certidão de divórcio para repudiar”. 5 Jesus replicou: “Eles vos deu este mandamento por causa da dureza de vosso coração. 6 Mas no início da criação Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, 8 e os dois se tornarão uma só carne. Assim já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”. 10 Em casa, os discípulos lhe perguntaram de novo sobre este ponto. 11 Jesus respondeu-lhes: “Todo aquele que se divorciar da própria mulher e se casar com outra comete adultério em relação a primeira. 12 E se a mulher se divorciar do marido e se casar com outro, ela comete adultério”.13 Algumas pessoas traziam-lhe crianças para que as acariciasse. Mas os discípulos ralhavam com elas. 14 Vendo isto, Jesus se indignou e lhes disse: “Deixai vir a mim as crianças,e não as impeçais, porque o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. 15 Eu vos declaro esta verdade: quem não acolher o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele”. 16 E ele as abraçava e abençoava, e lhes impunha as mãos.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2018 - Ano B - São Marcos, Brasília, Edições CNBB, 2017.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
“O QUE DEUS UNIU O HOMEM NÃO SEPARE” 
(Mc 10,9)
O pensamento que percorre toda a Liturgia da Palavra deste domingo é o da união.
A união, não a separação, é desejada por Deus.
A Liturgia da Palavra de hoje nos mostra diversos aspectos deste desejo de Deus.
Ele mesmo, Deus, é a união inseparável das Três Pessoas na Santíssima Trindade.
Assim o gênero humano deve permanecer em sua unidade e não em dispersão: esta união é indispensável para sua sobrevivência. E, quando os seres humanos se dispersam, quando as pessoas se separam, Deus intervém para recompor esta união e salvar a humanidade. Foi assim na criação do primeiro casal humano: Eva, tirada da costela de Adão, forma com ele o primeiro casal do gênero humano: sem o homem e sem a mulher o gênero humano não subsiste, perde sua identidade e se desfaz. A união do homem e a mulher é uma expressão da imagem e semelhança com Deus: assim como as três pessoas da Santíssima Trindade são inseparáveis, neste mundo o casal humano é inseparável.
Quando Jesus chega ao mundo realiza a reunião do Povo Eleito disperso pelo mundo. É o que nos diz a carta aos Hebreus, em seu texto escolhido para hoje. Este é o ponto alto da Liturgia da Palavra deste domingo.
Cada Leitura, com o Salmo Responsorial, nesta Liturgia da Palavra desenvolve um aspecto deste pensamento divino, o da união.
Da Primeira Leitura lemos:
“Ela será chamada mulher porque foi tirada do homem.
Por isso ... eles serão uma só carne” (Gn 2,23-24).
Pelo fato de a mulher ter sido separada do homem, isto é, formada a partir de uma costela dele, esta costela é parte dele. É por isso que a mulher não pode viver separada do homem. E esta união é que forma o casal e lhe dá sentido. É a união, não a desunião que dá sustentabilidade ao casal humano.
Antes de ser criada a mulher, no mundo o homem não encontrava criatura alguma à sua altura para ser completo. Portanto o homem precisa da mulher para ter sua identidade e existência completa por esta união. Pois, depois de repassar todas as criaturas de Deus na terra, dando-lhes nome, Adão se viu só, como está dito em Gn 2,20:
Adão não encontrou uma auxiliar semelhante a ele.
Ao lermos esta passagem sobre a criação do gênero humano, do primeiro casal, precisamos ir mais longe. Este relato da criação do gênero humano nos eleva ao nível mais alto pretendido por quem escreveu Gn 2: é para nosso pensamento se voltar para o próprio Deus, que em sua Santíssima Trindade é essencialmente União das Três Pessoas. É desta união que o casal humano é imagem, como está escrito em Gn 1,27:
E Deus criou o homem (o gênero humano)
segundo a sua imagem,
segundo a imagem de Deus Ele o criou:
homem e mulher (os dois subgêneros do gênero humano) os criou.
Em princípio a palavra ‘homem’ isolada já subentende o gênero humano inteiro, criado, aqui em Gn 1,27, completo, em sua totalidade. E, para dar sentido à mulher, o texto divide o ‘homem’ em dois subgêneros: macho e fêmea.
Mais adiante ainda nossa reflexão é conduzida pelo que vem depois, em Gn 1,28:
E Deus os abençoou e disse:
sede fecundos e multiplicai-vos ...
Quando Deus abençoou o primeiro casal, abençoou todo o gênero humano que cresceria depois. E a bênção de Deus significa a conservação da vida e existência dadas no início, para que não tenha mais fim. Adão e Eva são criados, assim, abençoados, isto é, não destinados à morte. Viveriam para sempre.
Aqui está dito que o casal humano recém-criado é apenas o começo da humanidade toda, que para ser humanidade diferente de outras criaturas, precisa ter origem num casal humano desde o começo de sua história. O ser humano não deve se rebaixar ao nível animal.
Quando Gn 1,28 foi escrito, o Povo Eleito estava na Babilônia, onde a adoração de animais fazia com que os homens estivessem num nível inferior a eles, pois quem adora está submisso ao que adora. O autor de Gn 1,27-28 mostra que o casal humano é superior a todos os animais: é este o sentido da ação de Adão, quando, com superioridade a todos os animais, lhes dá nome. Adão não recebe dos animais seu nome, nem é abençoado por eles. É de Deus que recebe o nome, o sentido de sua vida e existência, juntamente com a bênção, para que continue a viver sem limite de tempo.
Nós hoje somos Adão e Eva vivendo multiplicados em nosso tempo.
A bênção que receberam de Deus para continuarem a existir, é estendida a nós como seres humanos, isto é, criados da união de um casal, e por isso, vivermos unidos enquanto humanos. Se nos desumanizamos não somos mais parte do gênero humano e nossa existência se evapora no nada.
O Povo Eleito entendeu muito bem estas realidades sobre o gênero humano.
É o Salmo Responsorial que nos confirma.
E em sua liturgia cantava o Sl 127(127), em que, sobre o casal humano é dito:
Será assim abençoado todo homem que teme o Senhor [Sl 127(128),4].
Entendamos aqui, por ‘homem’ o gênero humano de Gn 1,27-28.
Todo este Salmo Responsorial deve ser meditado hoje, com tudo o que diz, em vista da unidade que compõe a obra criada por Deus em todo o mundo: a terra e os mares (vv.5-6), os rios, as montanhas, os pássaros, o gado, os pastos (vv.10.12.13-14), enfim, todas as criaturas (v.24).
Segunda Leitura leva nosso pensamento à obra salvadora de Jesus, que consiste precisamente em reunir o gênero humano, separado de Deus pelo pecado, com a Santíssima Trindade, uma vez que Jesus obteve o perdão de toda a humanidade. Somente assim a humanidade pode voltar ao que Deus quis que fosse, deste o primeiro dia de sua criação.
Como o Filho de Deus realizou isto?
Ele se tornou semelhante a Adão, fazendo-se pessoa do gênero humano, menos no pecado. Neste sentido está dito na Segunda Leitura:
Pois tanto Jesus, o santificador, como os santificados,
são descendentes do mesmo ancestral (Adão);
por essa razão Ele não se envergonha de os chamar ‘irmãos’. (Hb 2,11).
O Filho de Deus encarnado se tornou irmão de cada pessoa do gênero humano. E se orgulhou disto, pois somente tornando-se homem como nós podia reparar o pecado do homem Adão, da humanidade inteira. Ser homem, portanto, para o Filho de Deus, é motivo de orgulho. E como homem ressuscitado Ele retornou ao céu, levando consigo a humanidade. É deste modo que nos unimos à Santíssima Trindade, por meio do Filho de Deus, Jesus Cristo.
Para a Salvação da humanidade, Jesus foi diferente de Adão, porque ao contrário deste, não cometeu o pecado.
Adão desobedeceu a Deus. O Filho de Deus, Jesus Cristo, em toda a sua vida e existência foi a perfeita obediência a Deus.
Quando, morrendo na cruz, Jesus disse:
“Tudo está consumado” (Jo 19,30), estava consumado o perdão do pecado de Adão. Estava consumada a obediência do homem, na pessoa de Jesus, à Lei e aos Profetas. Jesus tinha cumprido a vontade de Deus enquanto homem obediente à vontade divina.Desse momento em diante, a reunião da humanidade com Deus estava assegurada.
Ele veio fazer a paz entre o céu e a terra, como diz o Hino de Cl 1,15-20:
15. Ele é a imagem do Deus invisível,
O primogênito de toda criação,
16. pois Nele foram criadas todas as coisas no céu e na terra ...
Tudo foi criado por meio Dele e para Ele.
 ....
19. Deus quis habitar Nele com toda a Sua plenitude
20. e por meio Dele reconciliar Consigo todos os seres,
os que estão na terra e no céu,
realizando a paz (união) pelo Sangue de Sua cruz.
É verdade que este Hino sobre Jesus Cristo é de imensa densidade. Para nós o importante, neste domingo, é prestar atenção à União que Jesus realiza entre a humanidade e a Santíssima Trindade. Foi para isto que o Filho de Deus se fez homem. E nisto consiste a Salvação, para uma Vida Eterna com a Santíssima Trindade.
Uma vez compreendidas estas coisas, podemos passar aoEvangelho de hoje:
“Assim, já não são dois, mas uma só carne.
Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”(Mc 10,8-9).
Isto que Jesus diz do primeiro casal e de todos os casais seus descendentes abençoados sobre toda a terra, não é outra coisa que afirmar como a união do casal é imagem da união que existe em Deus, nas Três Pessoas da Santíssima Trindade.
O casal não pode se separar porque a Santíssima Trindade não se separa.
Se o casal se separa, a humanidade de que eles são o princípio, deixa de ter sentido e cai no nada.
Isto fica claro. É sobre isto que devemos aprofundar nossa meditação.
Para terminar sobre o Evangelho de hoje, não podemos esquecer o ensino de Jesus sobre a separação do casal; é uma questão extremamente atual.
O Papa Francisco tem preocupação com os divorciados e casados em segunda união.
Porém esta questão continua sendo espinhosa, caso não retornamos ao ensino claro de Jesus neste Evangelho:
“Quem se divorciar de sua mulher e se casar com outra,
cometerá adultério contra a primeira” (Mc 10,11).
Esta frase de Jesus não pode ser riscada do texto sagrado do Evangelho.
Portanto o problema teológico, moral e pastoral é espinhoso.
O Papa Francisco deverá manter intactas estas palavras de Jesus, ao mesmo tempo em que trata deste problema hoje inspirado da compaixão divina pelos que sofrem em situação de separação nova união.
De nossa parte, portanto, a Liturgia da Palavra deste domingo nos leva a pedir a Deus, com insistência, que o Papa e os teólogos encontrem a melhor maneira de solucionar este problema.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário