Martírio de S. João Baptista
O «maior nascido de mulher» morreu mártir por ter censurado a Herodes Agripa pela sua conduta desonesta e imoral. Foi vítima da fé e da missão que exerceu. A sua degolação aconteceu na fortaleza de Maqueronte, junto ao Mar Morto, lugar de férias de Herodes. O sangue de João Baptista sela o seu testemunho em favor de Jesus: com a sua morte, completou a missão de precursor. A Igreja celebra hoje o seu nascimento para o céu, talvez por, nesta data, foi dedicada em sua honra uma antiga basílica, erguida em Sebaste, na Samaria.
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 1, 17-19
A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 17Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. 18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» -oráculo do Senhor.
João Baptista ajuda-nos a compreender a missão de Jesus, e a vida de Jeremias ajuda-nos a compreender a missão de João Baptista. Seria interessante lembrar a vida de Jeremias para compreender o valor destas duas vidas paralelas. Mas esta leitura da missa evidencia particularmente a «coragem» do profeta em dizer «tudo», a sua fortaleza para resistir à prepotência dos poderosos e a sua fé, isto é, a certeza de vencer em nome do Senhor. São qualidades típicas dos verdadeiros profetas…
Evangelho: Marcos 6, 17-29
Naquele tempo, Herodes tinha mando prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.
Marcos coloca a narrativa do martírio de João Baptista no caminho de Jesus para Jerusalém, como uma etapa fundamental. Com ela, concluiu-se o ciclo da vida do profeta e preludia-se o martírio de Jesus.
Não devemos deixar-nos impressionar apenas pelos pormenores narrativos, aliás muito sugestivos, desta página de Marcos. O evangelista não pretende evidenciar nem os vícios de Herodes nem a malícia de Herodíade e nem sequer a leviandade da filha. A sua intenção é dar o devido realce à figura de João Baptista, que é como que o «mentor» do Nazareno, e mostrar como este grande profeta leva a termo a sua vida do mesmo modo e pelos mesmos motivos que Jesus.
Este é o «pequeno mistério pascal» de João Baptista que, depois de experimentar a adversidade dos inimigos do evangelho, conhece agora o silêncio do sepulcro, onde espera a ressurreição.
Meditatio
As memórias litúrgicas de João Baptista levam-nos a meditar sobre o dom da profecia e sobre a figura do profeta. Qual é a sua função no meio do povo de Deus? Quais são as características que o qualificam como profeta? De que modo se coloca perante os seus contemporâneos como sinal de uma presença superior, como porta-voz da Palavra divina?
O profeta revela-se como tal pelo seu modo de falar, pelo estilo da sua pregação. A palavra não é tudo, mas é capaz de manifestar o sentido de uma presença, incómoda mas incontornável, com a qual todos se devem confrontar. O profeta manifesta-se também, e sobretudo, pelas suas opções de vida. Assim mostra ter percebido que o tempo em que se vive aquele em que Deus nos chama a ser-para-os-outros. O profeta não pode escapar a esse chamamento, sob pena de ser infiel à missão. Finalmente o profeta manifesta autenticidade da sua missão pela coragem em dar a vida por aquele que o chamou e por aqueles a quem é enviado. Ou se é profeta com a vida, a vida gasta por amor, ou não é profeta a sério.
O Pe. Dehon quer que nós sejamos os “profetas” e os “servidores... em Cristo” do amor redentor de Deus. Só dando Cristo ao mundo, somos “profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens... em Cristo” (Cst. 7). Há que sê-lo pela nossa vida e pelas nossas opções de vida: “Uma vida serena, porque oferecida em sacrifício a Deus; uma vida alegre, porque somos testemunhas do amor de Cristo; uma vida empenhada, porque colaboramos no advento do Reino de Deus; uma vida disponível, porque dada ao próximo, a exemplo de Cristo; uma vida partilhada, porque queremos ser testemunhas de que a “a fraternidade por que os homens anseiam é possível em Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores” (Cst. 65). Escreve o Fundador: «Não devem os homens apostólicos assemelhar-se muito particularmente ao Precursor? Como ele, devem preparar os caminhos de Nosso Senhor. Como ele, devem contribuir para a salvação dos pecadores pelas suas expiações e sacrifícios» (OSP 4, p. 562)
Oratio
Ó glorioso S. João Baptista, pregador corajoso e coerente da verdade, intercede por nós e por todos quantos, na Igreja, são chamados a exercer a missão profética. Que a exerçam com clareza, com coerência de vida, com coragem, dispostos a selar com o próprio sangue o seu testemunho. Que todos os homens apostólicos se assemelhem a ti, a fim de prepararem os caminhos do Senhor, entre os caminhos dos homens de hoje. Que o fogo da caridade divina arda em nossos corações, para sermos zelosos e perseverantes no testemunho do seu amor e no serviço da reconciliação. Ámen.
Contemplatio
Não devia o Precursor assemelhar-se a Nosso Senhor e preparar-lhe os caminhos? Nosso Senhor devia salvar-nos pela cruz, devia cumprir a sua missão pelo sofrimento: “Não devia Cristo padecer?” (Lc 24). Devia estabelecer a religião pela cruz e pelo sofrimento, e convinha que o seu Precursor passa-se pelo mesmo caminho e que se mostrasse heroico nas aflições e sofrimentos. Convinha que o mártir da sinagoga, que chegava ao fim, preparasse os caminhos ao Salvador, que devia abrir o céu pelos seus sofrimentos e pelo seu sangue. Nosso Senhor queria fazer partilhar a graça dos seus sofrimentos ao seu Precursor. Queria também preparar os espíritos para o Evangelho mostrando-lhe o que os justos têm a esperar dos homens. Queria também dar-nos um modelo para nos ensinar a bem sofrer… A coragem deste justo condena o nosso desleixo e incita-nos, a nós pecadores, a sofrer pacientemente pelos nossos pecados e por seu amor (Leão Dehon, OSP 4, p. 561.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Eu estou contigo para te salvar» (Jer 1, 19).
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Martírio de S. João Baptista (29 Agosto)
Lectio
Primeira leitura: Jeremias 1, 17-19
A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: 17Tu, porém, cinge os teus rins, levanta-te e diz-lhes tudo o que Eu te ordenar. Não temas diante deles; se não, serei Eu a fazer-te temer na sua presença. 18E eis que hoje te estabeleço como cidade fortificada, como coluna de ferro e muralha de bronze, diante de todo este país, dos reis de Judá e de seus chefes, dos sacerdotes e do povo da terra. 19Far-te-ão guerra, mas não hão-de vencer, porque Eu estou contigo para te salvar» -oráculo do Senhor.
João Baptista ajuda-nos a compreender a missão de Jesus, e a vida de Jeremias ajuda-nos a compreender a missão de João Baptista. Seria interessante lembrar a vida de Jeremias para compreender o valor destas duas vidas paralelas. Mas esta leitura da missa evidencia particularmente a «coragem» do profeta em dizer «tudo», a sua fortaleza para resistir à prepotência dos poderosos e a sua fé, isto é, a certeza de vencer em nome do Senhor. São qualidades típicas dos verdadeiros profetas…
Evangelho: Marcos 6, 17-29
Naquele tempo, Herodes tinha mando prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.
Marcos coloca a narrativa do martírio de João Baptista no caminho de Jesus para Jerusalém, como uma etapa fundamental. Com ela, concluiu-se o ciclo da vida do profeta e preludia-se o martírio de Jesus.
Não devemos deixar-nos impressionar apenas pelos pormenores narrativos, aliás muito sugestivos, desta página de Marcos. O evangelista não pretende evidenciar nem os vícios de Herodes nem a malícia de Herodíade e nem sequer a leviandade da filha. A sua intenção é dar o devido realce à figura de João Baptista, que é como que o «mentor» do Nazareno, e mostrar como este grande profeta leva a termo a sua vida do mesmo modo e pelos mesmos motivos que Jesus.
Este é o «pequeno mistério pascal» de João Baptista que, depois de experimentar a adversidade dos inimigos do evangelho, conhece agora o silêncio do sepulcro, onde espera a ressurreição.
Meditatio
As memórias litúrgicas de João Baptista levam-nos a meditar sobre o dom da profecia e sobre a figura do profeta. Qual é a sua função no meio do povo de Deus? Quais são as características que o qualificam como profeta? De que modo se coloca perante os seus contemporâneos como sinal de uma presença superior, como porta-voz da Palavra divina?
O profeta revela-se como tal pelo seu modo de falar, pelo estilo da sua pregação. A palavra não é tudo, mas é capaz de manifestar o sentido de uma presença, incómoda mas incontornável, com a qual todos se devem confrontar. O profeta manifesta-se também, e sobretudo, pelas suas opções de vida. Assim mostra ter percebido que o tempo em que se vive aquele em que Deus nos chama a ser-para-os-outros. O profeta não pode escapar a esse chamamento, sob pena de ser infiel à missão. Finalmente o profeta manifesta autenticidade da sua missão pela coragem em dar a vida por aquele que o chamou e por aqueles a quem é enviado. Ou se é profeta com a vida, a vida gasta por amor, ou não é profeta a sério.
O Pe. Dehon quer que nós sejamos os “profetas” e os “servidores... em Cristo” do amor redentor de Deus. Só dando Cristo ao mundo, somos “profetas do amor e servidores da reconciliação dos homens... em Cristo” (Cst. 7). Há que sê-lo pela nossa vida e pelas nossas opções de vida: “Uma vida serena, porque oferecida em sacrifício a Deus; uma vida alegre, porque somos testemunhas do amor de Cristo; uma vida empenhada, porque colaboramos no advento do Reino de Deus; uma vida disponível, porque dada ao próximo, a exemplo de Cristo; uma vida partilhada, porque queremos ser testemunhas de que a “a fraternidade por que os homens anseiam é possível em Jesus Cristo e dela quereríamos ser fiéis servidores” (Cst. 65). Escreve o Fundador: «Não devem os homens apostólicos assemelhar-se muito particularmente ao Precursor? Como ele, devem preparar os caminhos de Nosso Senhor. Como ele, devem contribuir para a salvação dos pecadores pelas suas expiações e sacrifícios» (OSP 4, p. 562)
Oratio
Ó glorioso S. João Baptista, pregador corajoso e coerente da verdade, intercede por nós e por todos quantos, na Igreja, são chamados a exercer a missão profética. Que a exerçam com clareza, com coerência de vida, com coragem, dispostos a selar com o próprio sangue o seu testemunho. Que todos os homens apostólicos se assemelhem a ti, a fim de prepararem os caminhos do Senhor, entre os caminhos dos homens de hoje. Que o fogo da caridade divina arda em nossos corações, para sermos zelosos e perseverantes no testemunho do seu amor e no serviço da reconciliação. Ámen.
Contemplatio
Não devia o Precursor assemelhar-se a Nosso Senhor e preparar-lhe os caminhos? Nosso Senhor devia salvar-nos pela cruz, devia cumprir a sua missão pelo sofrimento: “Não devia Cristo padecer?” (Lc 24). Devia estabelecer a religião pela cruz e pelo sofrimento, e convinha que o seu Precursor passa-se pelo mesmo caminho e que se mostrasse heroico nas aflições e sofrimentos. Convinha que o mártir da sinagoga, que chegava ao fim, preparasse os caminhos ao Salvador, que devia abrir o céu pelos seus sofrimentos e pelo seu sangue. Nosso Senhor queria fazer partilhar a graça dos seus sofrimentos ao seu Precursor. Queria também preparar os espíritos para o Evangelho mostrando-lhe o que os justos têm a esperar dos homens. Queria também dar-nos um modelo para nos ensinar a bem sofrer… A coragem deste justo condena o nosso desleixo e incita-nos, a nós pecadores, a sofrer pacientemente pelos nossos pecados e por seu amor (Leão Dehon, OSP 4, p. 561.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Eu estou contigo para te salvar» (Jer 1, 19).
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Martírio de S. João Baptista (29 Agosto)
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXI Semana – Terça-feira
Tempo Comum – Anos Ímpares – XXI Semana – Terça-feira
Lectio
Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 2, 1-8
1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis.
Paulo lembra aos Tessalonicenses as dificuldades que encontrou para lhes anunciar o Evangelho. Como era seu costume, o Apóstolo começou por ir à sinagoga anunciar a Boa-Nova de Cristo. Alguns judeus acolheram a fé. Mas outros montaram contra ele e contra Silas, seu companheiro, um motim. O povo em fúria assaltou a casa de Jasão, à procura dos missionários. Como não os encontrassem, arrastaram Jasão à presença das autoridades, impressionando-as de tal modo que só foi libertado mediante uma caução.
Depois, o Apóstolo lembra a sinceridade e a honestidade com que anunciou o Evangelho. Havia muitos que se apresentavam “em nome da verdade”, a anunciar que o fim estava próximo, e a propor um qualquer caminho de salvação. Paulo afirma-se diferente desses filósofos ambulantes, pseudo-profetas: «a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano» (v. 3). Manifesta afecto pelos Tessalonicenses, mas pretende, sobretudo, agradar a Deus: «Falamos, não para agradar aos homens mas a Deus» (v. 4). O Apóstolo tem por modelo Cristo, e Cristo crucificado. Por isso, entrega-se a si mesmo ao ministério que lhe foi confiado, ao serviço da comunidade, sem nada reservar para si.
Evangelho: Mateus 23, 23-26
Naquele tempo, disse Jesus 23Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! 25Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! 26Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo.
A religião é uma questão de interioridade, de coração, na relação com Deus e com o próximo. Se assim não for, converte-se em algo de acrescentado e sobreposto ao homem, algo que esmaga e asfixia, que escraviza. Por isso, Jesus pronuncia mais dois «Ai de vós» contra o legalismo exterior dos doutores da lei e dos fariseus e escribas, que os leva a desprezar o essencial da lei: «a justiça, a misericórdia e a fidelidade!» (v. 23). Também estes são «guias cegos», que se perdem em formalidades: «filtrais um mosquito e engolis um camelo!» (v. 24) – diz Jesus, esquecendo que, o mais importante, é ter o «coração puro»: «limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade!» (v. 25). Só a pureza do coração permite ver a Deus (cf. Mt 5, 8).
Meditatio
«Tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta», escreve Paulo aos Tessalonicenses (v. 2). Foram muitas as situações difíceis e as perseguições que teve de enfrentar. Paulo fala delas nas suas cartas e, concretamente, no texto que hoje escutamos. Lucas, nos Actos dos Apóstolos, também recorda várias situações difíceis por que passou Paulo. Em Filipos, Paulo e os seus companheiros foram presos, espancados, encarcerados: «A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo» (vv. 22-24). Enquanto, durante a noite, Paulo e Silas cantavam hinos de acção de graças a Deus pela perseguição e pelo sofrimento por que passavam, foram libertados, graças a uma intervenção especial, um terramoto. Muitas vezes, aqueles que têm uma missão e encontram graves dificuldades, desanimam. Não foi o caso de Paulo: «sentimo-nos encorajados no nosso Deus», escreve o Apóstolo (v. 2). Paulo conhece a sua fragilidade e, por isso, reconhece que a sua coragem, e a sua integridade moral são um dom de Deus. É por isso que dá graças.
«Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos» (v. 4), escreve Paulo. Há quem, em vez de «postos à prova», traduza a expressão original de outros modos como “tornados dignos”, “qualificados”. A. Vanhoye prefere “qualificados”. Antes de confiar um ministério a alguém, Deus prova-o, e, por meio da provação, melhora-o, torna-o capaz de cumprir a missão que lhe confia. Qualificado por Deus, Paulo está preocupado em permanecer nas disposições que Deus lhe deu, sem cair na adulação, na ambição, em manobras ambíguas, que seriam indignas do Evangelho. Por outro lado, Paulo empenha-se generosamente, com toda a sua afectividade no ministério apostólico. Não é como alguém que exerce uma função, mas vive como lhe apetece. A sua vida é coerente com o Evangelho que prega com todo o entusiasmo. Trata aqueles a quem se dirige com todo o respeito e afecto, como uma mãe trata os seus filhos: «Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta» (v. 7). Paulo usa um amor paterno e materno para com as comunidades que fundou: «Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis» (v. 8). O afecto de Paulo é oblativo, é generoso. Está disposto a dar a vida por aqueles que ama.
Que belos exemplos e estímulos recebemos do Apóstolos dos gentios.
Oratio
Pai santo, dá-me um
coração semelhante ao de Paulo, um coração semelhante ao de Cristo, um coração que saiba unir a santidade e a caridade. Dá-me integridade pessoal, a perfeita pureza de intenção, a ausência de manobras ambíguas, para que possa caminhar na santidade, e empenhar-me, com todo o meu afecto, no serviço dos irmãos. Que todos, na Igreja, possamos compreender que a santidade não reduz o coração, mas o expande e lhe permite dar tudo para testemunhar a caridade de Cristo. Amen.
Contemplatio
S. Paulo… começa a pregar a divindade de Jesus Cristo. Será um dos mais poderosos apóstolos pela palavra e pelo sofrimento. «Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para levar o meu nome diante das nações e dos reis e dos filhos de Israel, e hei-de mostrar-lhe quanto terá de sofrer pelo meu nome». A sua conversão e a sua vocação são devidas à misericórdia do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama as almas ardentes, zelosas, dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu para estas grandes graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre os quais S. Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas, obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas. Ofereçamos as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao Coração de Jesus para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis, apóstolos poderosos em palavras e em obras. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 90s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus» (1 Ts 2, 4).
Primeira leitura: 1 Tessalonicenses 2, 1-8
1Irmãos, vós próprios bem sabeis que não foi vã a nossa estadia entre vós; 2mas, tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta. 3É que a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano. 4Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos, não para agradar aos homens mas a Deus, que põe à prova os nossos corações. 5Por isso, nunca nos apresentámos com palavras de adulação, como sabeis, nem com pretextos de ambição. Deus é testemunha. 6Nem procurámos glória da parte dos homens, nem de vós, nem de outros. 7Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta. 8Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis.
Paulo lembra aos Tessalonicenses as dificuldades que encontrou para lhes anunciar o Evangelho. Como era seu costume, o Apóstolo começou por ir à sinagoga anunciar a Boa-Nova de Cristo. Alguns judeus acolheram a fé. Mas outros montaram contra ele e contra Silas, seu companheiro, um motim. O povo em fúria assaltou a casa de Jasão, à procura dos missionários. Como não os encontrassem, arrastaram Jasão à presença das autoridades, impressionando-as de tal modo que só foi libertado mediante uma caução.
Depois, o Apóstolo lembra a sinceridade e a honestidade com que anunciou o Evangelho. Havia muitos que se apresentavam “em nome da verdade”, a anunciar que o fim estava próximo, e a propor um qualquer caminho de salvação. Paulo afirma-se diferente desses filósofos ambulantes, pseudo-profetas: «a nossa exortação não se inspirava nem no erro, nem na má fé, nem no engano» (v. 3). Manifesta afecto pelos Tessalonicenses, mas pretende, sobretudo, agradar a Deus: «Falamos, não para agradar aos homens mas a Deus» (v. 4). O Apóstolo tem por modelo Cristo, e Cristo crucificado. Por isso, entrega-se a si mesmo ao ministério que lhe foi confiado, ao serviço da comunidade, sem nada reservar para si.
Evangelho: Mateus 23, 23-26
Naquele tempo, disse Jesus 23Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. 24Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! 25Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade! 26Fariseu cego! Limpa antes o interior do copo, para que o exterior também fique limpo.
A religião é uma questão de interioridade, de coração, na relação com Deus e com o próximo. Se assim não for, converte-se em algo de acrescentado e sobreposto ao homem, algo que esmaga e asfixia, que escraviza. Por isso, Jesus pronuncia mais dois «Ai de vós» contra o legalismo exterior dos doutores da lei e dos fariseus e escribas, que os leva a desprezar o essencial da lei: «a justiça, a misericórdia e a fidelidade!» (v. 23). Também estes são «guias cegos», que se perdem em formalidades: «filtrais um mosquito e engolis um camelo!» (v. 24) – diz Jesus, esquecendo que, o mais importante, é ter o «coração puro»: «limpais o exterior do copo e do prato, quando por dentro estão cheios de rapina e de iniquidade!» (v. 25). Só a pureza do coração permite ver a Deus (cf. Mt 5, 8).
Meditatio
«Tendo sofrido e sido insultados em Filipos, como sabeis, sentimo-nos encorajados no nosso Deus a anunciar-vos o Evangelho de Deus no meio de grande luta», escreve Paulo aos Tessalonicenses (v. 2). Foram muitas as situações difíceis e as perseguições que teve de enfrentar. Paulo fala delas nas suas cartas e, concretamente, no texto que hoje escutamos. Lucas, nos Actos dos Apóstolos, também recorda várias situações difíceis por que passou Paulo. Em Filipos, Paulo e os seus companheiros foram presos, espancados, encarcerados: «A multidão amotinou-se contra eles; e os estrategos, arrancando-lhes as vestes, mandaram-nos açoitar. Depois de lhes terem dado muitas vergastadas, lançaram-nos na prisão, recomendando ao carcereiro que os tivesse sob atenta vigilância. Ao receber tal ordem, este meteu-os no calabouço interior e prendeu-lhes os pés no cepo» (vv. 22-24). Enquanto, durante a noite, Paulo e Silas cantavam hinos de acção de graças a Deus pela perseguição e pelo sofrimento por que passavam, foram libertados, graças a uma intervenção especial, um terramoto. Muitas vezes, aqueles que têm uma missão e encontram graves dificuldades, desanimam. Não foi o caso de Paulo: «sentimo-nos encorajados no nosso Deus», escreve o Apóstolo (v. 2). Paulo conhece a sua fragilidade e, por isso, reconhece que a sua coragem, e a sua integridade moral são um dom de Deus. É por isso que dá graças.
«Como fomos postos à prova por Deus para nos ser confiado o Evangelho, assim falamos» (v. 4), escreve Paulo. Há quem, em vez de «postos à prova», traduza a expressão original de outros modos como “tornados dignos”, “qualificados”. A. Vanhoye prefere “qualificados”. Antes de confiar um ministério a alguém, Deus prova-o, e, por meio da provação, melhora-o, torna-o capaz de cumprir a missão que lhe confia. Qualificado por Deus, Paulo está preocupado em permanecer nas disposições que Deus lhe deu, sem cair na adulação, na ambição, em manobras ambíguas, que seriam indignas do Evangelho. Por outro lado, Paulo empenha-se generosamente, com toda a sua afectividade no ministério apostólico. Não é como alguém que exerce uma função, mas vive como lhe apetece. A sua vida é coerente com o Evangelho que prega com todo o entusiasmo. Trata aqueles a quem se dirige com todo o respeito e afecto, como uma mãe trata os seus filhos: «Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta» (v. 7). Paulo usa um amor paterno e materno para com as comunidades que fundou: «Tanta afeição sentíamos por vós, que desejávamos ardentemente partilhar convosco não só o Evangelho de Deus mas a própria vida, tão queridos nos éreis» (v. 8). O afecto de Paulo é oblativo, é generoso. Está disposto a dar a vida por aqueles que ama.
Que belos exemplos e estímulos recebemos do Apóstolos dos gentios.
Oratio
Pai santo, dá-me um
coração semelhante ao de Paulo, um coração semelhante ao de Cristo, um coração que saiba unir a santidade e a caridade. Dá-me integridade pessoal, a perfeita pureza de intenção, a ausência de manobras ambíguas, para que possa caminhar na santidade, e empenhar-me, com todo o meu afecto, no serviço dos irmãos. Que todos, na Igreja, possamos compreender que a santidade não reduz o coração, mas o expande e lhe permite dar tudo para testemunhar a caridade de Cristo. Amen.
Contemplatio
S. Paulo… começa a pregar a divindade de Jesus Cristo. Será um dos mais poderosos apóstolos pela palavra e pelo sofrimento. «Escolhi-o, dizia Nosso Senhor, para levar o meu nome diante das nações e dos reis e dos filhos de Israel, e hei-de mostrar-lhe quanto terá de sofrer pelo meu nome». A sua conversão e a sua vocação são devidas à misericórdia do Coração de Jesus. O Coração de Jesus ama as almas ardentes, zelosas, dedicadas. Mas a oração de Santo Estêvão contribuiu para estas grandes graças. Santo Estêvão rezava pelos seus perseguidores, entre os quais S. Paulo era o mais ardente. Se soubermos rezar e sofrer pelas almas, obteremos grandes graças, ilustres conversões, vocações poderosas. Ofereçamos as nossas orações, as nossas cruzes, os nossos sofrimentos ao Coração de Jesus para que envie à sua Igreja, nestes tempos difíceis, apóstolos poderosos em palavras e em obras. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 90s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a Palavra:
«Falamos, não para agradar aos homens, mas a Deus» (1 Ts 2, 4).
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