terça-feira, 19 de setembro de 2017

Liturgia do dia 17/09/2017


Leituras
Eclo 27,33-28,9
Sl 102,1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
Rm 14,7-9
Mt 18,21-35

24ª Semana do Tempo Comum - Ano A

Domingo

Primeira Leitura: Eclo 27,33-28,9

30 Rancor e cólera são abomináveis, o pecador é quem os promove. 28,1 Quem se vinga experimentará a vingança do Senhor; o Senhor registrará os seus pecados. 2 Perdoa a teu próximo as suas faltas e então, ao rezares, teus pecados serão perdoados. 3 Se um homem guarda raiva de outro, como poderá pedir a Deus a cura? 4 Se não tem compaixão de um homem, seu semelhante, como suplicará por suas próprias faltas? 5 Se ele, que é carne, guarda rancor, quem lhe perdoará os pecados? 6 Lembra-te do teu fim e deixa de odiar; lembra-te da corrupção e da morte, e observa os mandamentos. 7 Lembra-te dos mandamentos e não guardes rancor do teu próximo; lembra-te da Aliança do Altíssimo e passa por cima da ofensa. Discórdias e brigas ensanguentam o mundo 8 Conserva-te longe das contendas e evitarás o pecado; o homem irascível acalora as disputas. 9 O pecador lança a discórdia entre os amigos e lança a divisão entre os que vivem em paz.
Salmo: Sl 102,1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
R. O Senhor é bondoso e compassivo, lento em irar-se e cheio de clemência.
1 Bendize o teu Senhor, ó minha alma; louve todo o meu ser seu santo nome! 2 Sim, bendize o Senhor, ó minha alma, não esqueças nenhum de seus favores!

3 Pois perdoou as tuas culpas todas, de toda enfermidade te curou. 4 Salvou da sepultura a tua vida, cercou-te de carinho e compaixão.

9 Não leva a discussão até o fim, não guarda para sempre o seu rancor. 10 Não nos tratou segundo as nossas faltas, nem nos pagou segundo as nossas culpas.

11 Mais alto do que o céu por sobre a terra, é o amor do Senhor pelos que o temem. 12 Mais longe que o oriente do ocidente, ele afastou de nós nossos pecados.
Segunda Leitura: Rm 14,7-9

Irmãos:7 Ninguém de nós vive e ninguém de nós morre para si mesmo. 8 Porque se vivemos, vivemos para o Senhor, e se morremos, morremos para o Senhor. Tanto na vida como na morte pertencemos ao Senhor. 9 Porque, se Cristo morreu e ressuscitou, foi para reinar sobre os mortos e sobre os vivos.
Evangelho: Mt 18,21-35

Naquele tempo:21 Pedro, então, chegou perto de Jesus e lhe perguntou: “Senhor, quantas vezes terei de perdoar a meu irmão, se pecar contra mim? Até sete vezes?”. 22 Jesus lhe respondeu: “Eu não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23 A propósito, o reino dos céus é semelhante a um rei que quis acertar as contas com seus servidores. 24 Para começar, apresentaram-lhe um que devia dez mil moedas de grande valor. 25 Como não tinha com que pagar, ordenou ao senhor que o vendesse com sua mulher, seus filhos e todos os bens que possuía, para que desse modo saldasse a dívida. 26 Então, o servidor se atirou aos pés dele, suplicando: ‘Concede- me um prazo e eu te pagarei toda a dívida’. 27 Compadecido, o senhor deixou o servidor em liberdade e perdoou-lhe a dívida. 28 Ora, apenas saído, aquele servidor encontrou um dos seus companheiros que lhe devia cem pobres moedas. Agarrando-o pelo pescoço, sufocava-o, dizendo: ‘Paga o que deves!’ 29 Mas o companheiro, caindo a seus pés, suplicava-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e eu te pagarei tudo!’ 30 Mas ele não quis concordar; pelo contrário, foi-se embora e mandou jogá-lo na cadeia até pagar a dívida. 31 Vendo o que se passava, seus companheiros ficaram profundamente entristecidos e foram levar ao senhor a notícia desse caso. 32 Então, o senhor o chamou e disse-lhe: ‘Servidor cruel! Eu te perdoei toda a dívida, porque me suplicaste isso. 33 Não devias tu também ter pena do teu companheiro, como eu tive de ti?’ 34 E, encolerizado, o senhor o entregou aos carrascos, até que pagasse toda a dívida. 35 Do mesmo modo também procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão de todo o coração”.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2017 - Ano A - São Mateus, Brasília, Edições CNBB, 2016.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
DEUS NÃO NOS TRATA COMO EXIGEM NOSSAS FALTAS, NEM NOS PUNE EM PROPORÇÃO ÀS NOSSAS CULPAS.
[Sl 102(103), 9-10].
Toda a Liturgia da Palavra deste domingo é um ensino denso e consolador sobre o modo como Deus nos perdoa movido por amor e misericórdia de nós.
É assim que aprendemos de Deus a perdoar também os que nos ofenderam.
É assim que cumprimos toda a Lei de Deus.
É assim que somos salvos dentro do plano salvífico divino: é pela Paixão e Morte de Seu Filho que somos salvos. Em Jesus Deus revelou todo seu amor misericordioso por nós, e nos livrou da morte eterna merecida por nossos pecados.
Primeira Leitura:
Eclo 27,33-28,9
28,1 Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados.
2 Perdoa a injustiça cometida por teu próximo:
assim, quando orares, teus pecados serão perdoado.
Toda esta Primeira Leitura é um conjunto de exortações a quem foi ofendido pelos outros. Portanto seu tema é o perdão ao próximo considerado de vários modos.
Não estamos habituados a pensar como nos diz Eclo 28,1-2: perdoar as ofensas é para nós fonte do perdão de Deus no momento de nossa oração. É consolador saber como o perdão de nossos pecados nos vem desta forma, entre outras, além do sacramento da reconciliação. Este pensamento continua pelos versículos seguintes, em Eclo 28,3-5.
No Antigo Testamento esta é uma das passagens mais incisivas sobre o perdão como forma elevada do amor ao próximo, que, com o amor a Deus, encerra toda a Lei e os Profetas.
Salmo Responsorial:
Sl 102,1-2.3-4.9-10.11-12 (R. 8)
V. 9: [Deus] Não fica sempre repetindo as suas reprovações,
nem guarda eternamente o seu rancor.
V.10: Não nos trata como exigem nossas faltas,
nem nos pune em proporção às nossas culpas.
Estas palavras deste Salmo Responsorial
ultrapassam nossa compreensão do que seja o desejo de Deus em nos perdoar. Para um pecador, cuja culpa se acumula e esmaga, imaginar um Deus difícil para perdoar pode ser uma tentação que leva ao desespero.
No entanto o Salmo é claro:
Deus nos reprova, é verdade, mas não nos cansa com reprimendas sem fim.

O rancor de Deus contra nosso pecado não é eterno.

Nem mesmo nos pune com a justiça que reconhecemos correta
, pois Deus em sua misericórdia mitiga nossa culpa. Se Deus nos punisse em proporção com nossas culpas, como poderíamos ser salvos?
No entanto, Deus nos perdoa completamente
(Ne 9,17; Is 55,7). Nenhum pecado resta quando Deus dá o perdão (At 3,19).
O perdão de Deus é definitivo
: não há porquê recordá-los (Jr 31,34).
Segunda Leitura:
Rm 14,7-9
V.7: Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo.
V.8: Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos;
se morremos, é para o Senhor que morremos.
Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor.
Por qual motivo Deus se empenha definitivamente em nos perdoar os pecados?
É para que toda nossa existência Lhe pertença para sempre.
Nossa vida como batizados é uma morte ao pecado e participação na Vida Divina.
Se não houvesse o perdão de nossos pecados, nada disto seria possível.
Uma vez perdoados pela Paixão e Morte de Jesus, fomos resgatados da escravidão do pecado, e, por isso, libertos não nos pertencemos mais a nós mesmos.
São Paulo é claro: Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor.
Aqui está o motivo pelo qual Deus nos perdoa sempre e para sempre: para estarmos com Ele como no princípio estava a humanidade antes do pecado original.
Evangelho:
Mt 18,21-35
“É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco,
se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”
(Mt 18,35).
Jesus nos conta uma parábola em que mostra como Deus julga as pessoas.
O primeiro sentimento de Deus ao julgar alguém, diz Jesus, é o de misericórdia.
Foi assim que o rei, que nesta parábola representa Deus, perdoou a grande dívida que um de seus servidores tinha com ele. O rei teve pena daquele homem, que certamente era pobre, tinha mulher e filhos para sustentar e estava sem dinheiro para pagar sua dívida.
O rei, em sua bondade, perdoou a dívida e não exigiu nada em troca. Ficou satisfeito pelo simples fato de ter podido ter feito o bem àquele homem necessitado.
Esta é a imagem de Deus que perdoa nossos pecados sem exigir nada em troca, por maiores que sejam. Deus é cem por cento misericordioso.
Mas a parábola continua.
O homem perdoado saiu do palácio. Encontrou um amigo que lhe devia pouco dinheiro. Mas em vez de perdoá-lo, levou-o ao juiz que o pôs na prisão até que pagasse tudo o que devia.
O rei, ao saber disso, chamou de volta o que tinha perdoado. Acontece que o rei, além de misericordioso, era também justo. Repreendeu o que tinha perdoado dizendo que não tinha sido misericordioso com seu amigo. A falta da misericórdia provocou a aplicação da lei da justiça. Assim mandou para os torturadores aquele que antes tinha sido perdoado, mas não tinha sabido perdoar.
Novamente vemos aqui o rei que representa Deus. Desta vez é o Deus da justiça. Deus é cem por cento justo.
Jesus conclui seu ensino com estas palavras: “É assim que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão” (Mt 18,35).
Perguntemos a nós mesmo: de que modo preferimos receber o perdão de Deus?
Com Sua Misericórdia?
Com Sua Justiça?
Pensemos bem e peçamos-Lhe: “Pai nosso, perdoai nossos pecados com Vossa Misericórdia e com Vossa Justiça. E ensina-nos a fazer o mesmo com nossos irmãos”.
Terminemos nossa meditação sobre a Liturgia da Palavra de hoje mantendo viva a lembrança de seu pensamento central:
V. 9: [Deus] Não fica sempre repetindo as suas reprovações, nem guarda eternamente o seu rancor.
V.10: Não nos trata como exigem nossas faltas,
nem nos pune em proporção às nossas culpas.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
As lições do sábio Jesus Ben Sirac
O 24º domingo do Tempo Comum nos convida a olhar para o livro do Eclesiástico ou Sirácida (nome preferível, porque evita a confusão com outro livro bíblico, o Eclesiastes). O livro é obra de Jesus Ben Sirac, que viveu em Jerusalém por volta de 200 a.C. Este pedagogo anotou, em língua hebraica, seus pensamentos e tradições populares. Mais tarde, estas anotações foram traduzidas para o grego, pelo seu neto, radicado em Alexandria do Egito, capital cultural do mundo mediterrâneo de então.
Esta “suma pedagógica” do século III/II a.C. mostra o empenho de Israel em fazer a síntese entre sua tradição e os novos costumes que estavam sendo introduzidos pelos sucessores do conquistador Alexandre Magno. Israel procurava conservar sua identidade em meio à cultura greco-asiática conhecida como “helenismo”. Poucos anos depois, a revolta dos Macabeus contra os príncipes helenísticos daria origem a um fechamento cultural que se reflete no judaísmo farisaico dominante no tempo de Jesus e dos primeiros cristãos. O Sirácida é importante porque mostra a concepção da identidade judaica antes desse fechamento.
O tradutor antepôs ao texto um prólogo (prefácio) a respeito da origem e da tradução do livro. Este prólogo é um documento de primeira mão acerca da dificuldade em traduzir a Bíblia — “a Lei, os Profetas e os outros livros” — para os povos não-hebreus. O Sirácida não entrou no cânon judaico dos livros sagrados porque, no tempo em que a lista foi estabelecida, não era lido nas sinagogas de língua hebraica. Mas consta do Antigo Testamento da Bíblia cristã, porque os primeiros cristãos eram judeus de língua grega e liam a tradução grega. (O livro falta nas bíblias protestantes, que seguem o uso hebraico.) No fim do século passado, foram reencontrados amplos fragmentos do texto hebraico, sendo que atualmente possuímos o texto hebraico quase por completo.
Podem se distinguir no livro as seguintes partes: o prólogo do tradutor; a educação para a sabedoria (1,1–4,19); o temor a Deus e a comunidade da fé (4,20–18,14); exortações diversas (18,15–24,34); a experiência do mestre (25,1–42,14); a sabedoria de Deus na criação e na história (42,15–50,24); apêndices (50,25–51,30).
O livro é marcado pelo bom senso e pela busca do equilíbrio. Às vezes parece até conservador. É também muito nacionalista, como aparece, por exemplo, na narrativa simbólica da Sabedoria que sai de junto de Deus, percorre o mundo e finalmente se estabelece em Israel (24,1-12); e no elogio dos antepassados (44,1–50,24), culminando no louvor do sumo sacerdote Simeão, contemporâneo e talvez patrocinador da obra.
O caráter um tanto eclético faz com que encontremos uma grande riqueza de pensamentos diversos. Assim, o texto sobre a grandeza divina que consiste na capacidade de perdoar (27,30–28,7 [latim: 27,33–28,9]), texto lido na liturgia do 24º domingo comum e fundamental para nossa compreensão do Deus da Bíblia, que cremos ser nosso Deus. Pois facilmente imaginamos Deus como vingativo, a ponto de acreditar que precisou do sangue de seu “filho” para que a dívida impagável de nossos pecados fosse apagada. Tal conceito não corresponde à imagem de Deus-Pai que Jesus nos revela no Novo Testamento, e tampouco ao Antigo Testamento, que, neste texto do Sirácida, nos afirma que Deus não é vingativo, embora a limitação lingüística faça o autor dizer que Deus exerce vingança contra quem se vinga... (28,1; o evangelho de Mt 18,21-35 ilustra esse pensamento). O verdadeiro rosto de Deus é o do Pai misericordioso, superior à vingança. Deus não é mesquinho! Seis séculos antes, o profeta Oséias já anunciara: “Não darei curso à minha ira ardente... pois sou Deus, e não um homem” (Os 11,9).
Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

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