sexta-feira, 16 de março de 2018

Liturgia do dia 04/03/2018


Liturgia do dia 04/03/2018


Leituras
Ex 20,1-17 ou abrev. Ex 20,1-3.7-8.12-17
Sl 18(19b),8.9.10.11 (R/. Jo 6,68c)
1Cor 1,22-25
Jo 2,13-25 (Mercadores no templo)

3º DOMINGO DA QUARESMA

Domingo

Primeira Leitura: Ex 20,1-17

Naqueles dias: 1 Deus pronunciou todas estas palavras, e disse:

2 “Eu sou Javé, teu Deus, eu que te tirei da terra do Egito, da casa da escravidão. 3 Não terás outros deuses ante a minha face.

II 4 Não farás para ti imagem esculpida nem figura alguma à semelhança do que há em cima no céu, nem do que há embaixo na terra, nem do que há nas águas embaixo da terra. 5 Não te prostrarás diante destes deuses, nem os servirás. Porque eu, Javé, teu Deus, sou um Deus ciumento: castigo a maldade dos pais também em seus filhos e até nos netos e bisnetos daqueles que me odeiam, 6 mas faço misericórdia até mil gerações para com aqueles que me amam e guardam os meus mandamentos.

III 7 Não pronunciarás em vão o nome de Javé, teu Deus, porque Javé não deixa impune aquele que pronuncia o seu nome em vão.

IV 8 Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. 9Durante seis dias trabalharás, neles fazendo todas as tuas obras; 10 mas o sétimo dia é um sábado para Javé teu Deus. Não farás nele trabalho algum: nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu escravo, nem teu servo, nem teu gado, nem o estrangeiro que está em tuas Portas. 11 Porque em seis dias Javé fez o céu e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas Ele repousou no sétimo dia. Por isso Javé abençoou o dia de sábado e o santificou.

12 Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que te é dada por Javé teu Deus.

VI 13 Não matarás.

VII 14 Não cometerás adultério.

VIII 15 Não furtarás.

IX 16 Não darás depoimento falso contra o teu próximo.

17 Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu servo, nem sua serva, nem seu boi, nem seu jumento, nem coisa alguma que lhe pertença.”
Salmo: Sl 18(19b),8.9.10.11 (R/. Jo 6,68c)
R. Senhor, tens palavras de vida eterna.
8 Sim, a lei do Senhor é sem defeito, ela conforta a alma. Seguro é o testemunho do Senhor, torna sábios os simples.

9 As normas do Senhor são todas justas, ao coração alegram. É reto o mandamento do Senhor, clareia os nossos olhos.

10 O temor do Senhor é o que há de puro, para sempre nos firma. São os seus julgamentos verdadeiros, todos eles justiça.

11 Eles são mais que o ouro desejáveis, mais que o ouro mais fino. São ainda mais doces do que o mel, do que escorre dos favos.
Segunda Leitura: 1Cor 1,22-25

Irmãos: 22 os judeus exigem milagres e os gregos buscam a sabedoria. 23 Nós, pelo contrário, anunciamos um Cristo crucificado, que é um escândalo para os judeus e loucura para os pagãos. 24 Cristo, no entanto, é o poder de Deus e a sabedoria de Deus para os escolhidos, quer judeus, quer gregos. 25 Pois a loucura de Deus é mais sábia que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte que os homens.
Evangelho: Jo 2,13-25 (Mercadores no templo)

13 Estava próxima a Páscoa dos judeus. Jesus subiu a Jerusalém, 14 e encontrou no Templo os que vendiam bois, cordeiros e pombas, e os cambistas em suas bancas. 15 Tendo feito um chicote com cordas expulsou a todos do Templo, com os bois e os cordeiros. Jogou no chão o dinheiro dos cambistas e derrubou suas bancas.16 Disse aos vendedores de pombas: “Tirai daqui essas coisas. Não transformeis a casa de meu Pai em mercado!”. 17 Os discípulos se recordaram do que está escrito: o zelo de Tua Casa me devorará. 18 Por isso os judeus lhe pediram explicações: “Que sinal nos apresentas para agir assim?”. 19 Jesus respondeu: “Destruí este templo e em três dias eu o construirei de novo”. 20 Os judeus replicaram: “Levaram quarenta e seis anos para edificar este Templo e tu serias capaz de reerguê-lo em três dias?”. 21 Porém ele dizia isto a respeito do templo de seu corpo. 22 Quando ressuscitou dos mortos, os discípulos se lembraram do que ele falou e acreditaram na Escritura e na palavra que Jesus tinha dito. 23 Durante a sua estadia em Jerusalém, na festa da Páscoa, muitos acreditavam em seu nome à vista dos sinais que ele operava. 24 Jesus, no entanto, não confiava neles, porque conhecia a todos 25 e não tinha necessidade de ser informado a respeito de quem quer que fosse, pois bem sabia o que havia no interior de cada um.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2018 - Ano B - São Marcos, Brasília, Edições CNBB, 2017.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
O PODER DE DEUS SE MANIFESTA NA MORTE E RESSURREIÇÃO DE JESUS. É O PODER DO AMOR MISERICORDIOSO QUE NO PERDÃO VENCE A MORTE E NOS DÁ A VIDA.
Um dia Jesus disse que não veio abolir a Lei nem os Profetas (Mt 5,17-19), mas dar-lhes aperfeiçoamento e pleno cumprimento.
Para nós é um pouco difícil entender o que Jesus quis dizer.
O motivo pode ser que imaginemos Jesus simplesmente confirmando a religião israelita daquele tempo, sem introduzir nenhuma novidade.
Sabemos que Jesus não aceitou certas invenções dos rabinos e mestres da Lei de seu tempo. Eles tinham acrescentado à Lei de Moisés 613 ‘preceitos’, não ‘mandamentos de Deus’. No entanto, obrigavam o povo a segui-los rigorosamente.
Desses 613 preceitos, 365 eram proibições de ações consideradas erradas porque afetariam o cumprimento de um dos Mandamentos de Deus. Havia ainda 248 preceitos, número correspondente às articulações do corpo humano. Todas estas formas de ‘observância estrita’ pareciam certas para a maioria da população. Mas eram as pessoas simples as que mais sofriam. Quem, por exemplo, num país desértico, podia tomar banho ou se aspergir com água, cada vez que voltava da rua para a casa, como o faziam os ‘zelosos’ fariseus? (Mt 7,4). A água era escassa e sua busca nas fontes, trabalhosa. Muitas fontes ficavam longe das casas. Como podiam lavar as mãos com frequência exigida por aqueles preceitos?
Mesmo tendo aparência de bem, aqueles preceitos eram resultado de um zelo indiscreto e contra a caridade. Os que os inventaram tinham uma segunda intenção: pela sua prática serem considerados mais santos do que o povo comum.
Jesus foi claro: esses preceitos eram um fardo para os israelitas. Ele mesmo não os observava, e nem exigia que seus discípulos os cumprissem. Pelo contrário, ofereceu como alternativa a retidão de consciência no interior do coração e no comportamento exterior. Ele oferecia o amor a Deus e ao próximo como a melhor maneira de agradar a Deus e a todos. Seu fardo, portanto, era leve: Mt 11,30. E assim era o Reino de Deus. Deus não queria uma religião que torturasse as pessoas.
Agindo desta maneira, Jesus deu uma reorientação correta à observância da Lei e dos Profetas.
Evangelho de hoje nos mostra Jesus tomado pelo zelo no culto devido a Deus em Seu Templo. Apesar de tantos preceitos, os sumos sacerdotes não criticavam as pessoas que faziam comércio no átrio do Templo, porque eles recebiam dos cambistas uma quantia em troca de seu favorecimento errado.
Jesus expulsou os vendilhões do Templo, dizendo que tinham transformado a Casa de Seu Pai em mercado, em casa de câmbio de moedas de muitos países, uma bolsa de valores. A algazarra naquele átrio devia ser ensurdecedora. Quem desejasse entrar no Templo para seu encontro com Deus não tinha o silêncio necessário à oração. De casa de oração o Templo se tornara lugar de confusão. Jesus não podia, absolutamente, admitir aquilo.
 Quem de nós teria a coragem de expulsar os vendedores de quinquilharias em volta de nossas igrejas e santuários importantes? Quanto comércio não existe em torno de centros de peregrinação famosos? Isto seria conforme o pensamento de Jesus? Ele não repreenderia muitos bispos, párocos e religiosos por este motivo?
Depois que Jesus expulsou os vendilhões do Templo, os chefes judeus vieram pedir-lhe ‘prestação de contas’. E perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?” (Jo 2,18).
Os judeus sempre pediam a seus profetas sinais milagrosos para confirmar que eram enviados por Deus. De Jesus pediram sinais mais de uma vez. Mas desta, Ele apenas acenou para o que seria o Seu sinal definitivo de que fora enviado por Deus: Sua Ressurreição. A maneira em que fez isto, porém, não foi entendida pelos judeus. Na verdade, àquela altura dos conflitos de Jesus com os judeus nada se mudaria: eles já tinham decidido matá-Lo.
Jesus lhes disse: “Destruí este Templo, e em três dias o levantarei” (Jo 2,19).
É claro que os judeus nada entenderam. E os discípulos muito menos, naquela ocasião. Somente depois que Jesus ressuscitou é que identificaram o verdadeiro Templo de Deus no corpo ressuscitado de Jesus (Jo 2,21).
Os judeus destruíram o Templo, o corpo de Jesus, sua vida e existência humana.
Isto aconteceu porque Jesus mesmo, que era senhor de sua vida e de sua morte (Jo 10,18) podia aceitar morrer quando chegasse a sua hora (Jo 7,30).
Mas o mais importante é saber que chegada sua hora, Jesus aceitou a vontade do Pai contra seu temor normal num ser humano:

“…Pai, se queres, afasta de mim este cálice; entretanto, não seja feita a minha vontade, mas o que Tu desejas!”
 (Lc 22,42).
Pregado na Cruz, antes de morrer, Jesus disse: “Está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30).
Foi neste momento que Jesus cumpriu completamente a Lei do amor e obediência a Deus. Ele não viera para aboli-la.
Notemos como Jesus mesmo entendeu este cumprimento da Lei e dos Profetas: Ele assumiu para si a obrigação de todo o Povo Eleito e de toda a humanidade. Ele se identificou assim com o gênero humano, Adão, e o Israel que o Pai sempre quis: obediente, no pleno cumprimento da vontade de Deus.
A morte de Jesus, portanto, tem um alcance muito maior do que habitualmente calculamos. O poder redentor da morte de Jesus é universal, para toda a humanidade e para todos os séculos. Primeira Leiturapudemos ouvir os dez Mandamentos conforme o texto original hebraico. Estão em Ex 20,1-3.7-8.12-17.
Aí está o essencial da Lei de Deus que Jesus cumpriu ao aceitar sua Paixão e sua Morte. Ele tinha aprendido, desde sua infância, todos os Mandamentos através do exemplo de sua Mãe santíssima, e de seu pai adotivo José. Desde criança aprendera em tudo a cumprir a vontade de Deus. Por isso, um dia, disse aos seus discípulos: “Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra” (Jo 4,34).

A vontade do Pai moldou no homem Jesus uma personalidade particular e única. Ele era um homem santo. Santo para os padrões humanos, mas muito mais ao olhar de Deus Pai. Ao olhar dos seres invisíveis, a santidade de Jesus Cristo era a mesma que Deus Pai tinha.
                
No Evangelho de Marcos 1,23-24 está escrito:
23. E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou,
24. dizendo: ‘que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos?
Bem sei quem és: o Santo de Deus’.
A santidade de Jesus, não vislumbrada por aquelas pessoas, foi declarada pelo demônio.
Foi com esta santidade e obediência à vontade de Deus que o Pai o qualificou para cumprir plenamente a Lei. Portanto, Ele não a aboliu. Ele a cumpriu.Segunda Leitura de hoje São Paulo se queixa da conhecida exigência dos judeus: a de pedir sinais para comprovar sua missão de homem enviado por Deus.

Como São Paulo não escapou desta exigência, deu uma resposta aos judeus de seu tempo, fundado na resposta do próprio Jesus que morreu na Cruz.
 Este, disse São Paulo, foi o maior sinal que Jesus poderia dar aos judeus. Eles o interpretaram como fraqueza daquele que, segundo eles, pretendia ser o Messias. Mas morreu desprezado como um criminoso. Que tipo de Messias era esse, em quem o poder de Deus não se manifestou?

São Paulo disse aos judeus que esta ‘fraqueza’ de Deus era mais poderosa que todo poder que os homens pudessem ter.
 O poder de Deus foi revelado na Ressurreição de Jesus dos mortos (1Cor 1,24-25). Qual homem teria um poder como esse, considerado ‘fraqueza’ divina?
Foi assim que Jesus se mostrou vitorioso sobre seus inimigos: foi Ele quem observou a Lei e os Profetas da maneira mais completa e definitiva. O que para os judeus era derrota de Jesus, para os cristãos era sua vitória. São Paulo ainda escreveu em Filipenses 2,8-11:
8. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz!
9. Por isso Deus o exaltou e lhe deu o Nome que está acima de todo Nome,
10. para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho, no céu, na terra e debaixo da terra,
11. e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.
São Paulo tinha razão explicando este tipo de ‘fraqueza de Deus’, que elevou Jesus Cristo à glória do título recebido do Pai: Senhor. Deus lhe deu o poder de julgar os vivos e os mortos no Dia de Sua Vinda Gloriosa. Ele, finalmente, julgará com misericórdia e justiça os judeus que foram seus inimigos na terra, pelos quais pediu o perdão do Pai (Lc 23,34). A maior expressão do poder de Deus está em seu perdão amoroso dos pecadores.
Na vitória de Jesus, revelada em Sua Ressurreição, Jesus demonstrou o que sobre Ele foi profetizado no Salmo Responsorial de hoje [Sl 18(19),8-9]:
8. A Lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes.
9. Os Mandamentos do Senhor são precisos, alegria ao coração.
O Mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz.
Com Jesus Ressuscitado rezemos este Salmo Responsorial, demonstrando a Deus nossa vontade de identificar a nossa com a Dele. Esta foi a alegria de Jesus ao rezar este salmo desde criança. Sintamos com Ele esta mesma alegria.
A Lei do Senhor, perfeita e conforto para a alma, foi cumprida por Jesus em sua Paixão e Morte. Foi aí que Deus manifestou Seu Poder, o Poder de Seu Amor por nós: perdoando nosso pecado, deu-nos a Vida.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
A purificação do Templo 
O 3º domingo da Quaresma nos apresenta a purificação do Templo segundo João. Comparado com os outros evangelistas, João dá um sentido diferente a este fato. Em Marcos, Mateus e Lucas, ele é situado na única subida de Jesus a Jerusalém que eles mencionam, aquela que o levará à morte. João menciona diversas presenças de Jesus em Jerusalém: 2,13 (viagem para a Páscoa); 5,1 (para “uma festa”); Jo 7,1 (para a festa das Tendas); Jo 11,55 (para a Páscoa). Incluindo a Páscoa que Jesus passou na Galiléia (Jo 6,4), temos em João três Páscoas, o que serve de base para calcular o ministério de Jesus em três anos. Todavia, os evangelistas relatam uma minuciosa biografia de Jesus. Antes, recordam alguns momentos fortes de Jesus, com o intuito de manter viva a memória do Mestre. Seria muito estranho Jesus ter causado esse transtorno no Templo e depois ter voltado a Jerusalém sem que ninguém faça a mínima alusão a isso, como aparece no evangelho de João. João ordenou seu “álbum de lembranças” de Jesus com outro intuito que o cronológico.Cada evangelista narra a purificação do Templo de seu próprio jeito. Em Marcos — o primeiro evangelho que nos foi deixado em sua forma atual —, vemos que o gesto profético de Jesus no Templo é um fato entre outros que ocorrem nos poucos dias de Jesus em Jerusalém. Não acontece logo depois de sua chegada (Mc 11,11), mas uns dias depois, quando Jesus se desloca de Betânia, onde passa as noites, para Jerusalém (11,15), onde ele toma a palavra no meio dos romeiros da Páscoa, como faziam provavelmente também outros rabinos viajantes que acompanhavam os romeiros. Atacando compradores e vendedores, cambistas que trocavam moeda comum em moeda do Templo e vendedores de pombas, Jesus proibiu transportar utensílios através do Templo (11,16). Pois, com esse comércio, o Templo se transformara num “covil de ladrões” (11,17; cf. Jr 7,11), em vez de realizar sua vocação escatológica profetizada por Is 56,7: ser uma casa de oração para todas as nações. Jesus ataca o comércio pseudo-religioso no Templo, porque o torna inapto para ser o que ele deveria ser no Reino por ele anunciado, Reino aberto a todos, livre do complicado ritualismo da religião judaica daquele momento. A mesma idéia transparece em Mc 7, a respeito das leis de pureza e das oferendas votivas em benefício do Templo e em prejuízo das pessoas carentes (Mc 7,6-13). A pregação de Jesus no Templo encontra, pois, seu ponto alto no ensinamento do amor fraterno como supremo mandamento, acima de todas as prescricões rituais e sacrificais (Mc 12,28-34).Já em Mateus, Jesus realiza seu gesto profético logo no momento de entrada em Jerusalém, sem explicar o porquê (Mt 21,10-13). E em Lucas, mais ainda, tem-se a impressão que Jesus chega a Jerusalém para purificar o Templo, por causa da lamentação profética que ele pronuncia sobre a cidade ao avistá-la desde o Monte das Oliveiras, em frente do Monte do Templo (Lc 19,41-44). É a purificação escatológica do Templo anunciada pelo profeta Malaquias (Ml 3,1-5).

João vai um passo mais longe. Para ele, já não se trata de uma purificação do Templo. Jesus não apenas proíbe a complicação causada pelo ritualismo e os negócios relacionados com isso. Em João, Jesus expulsa, em primeiro lugar, animais dos sacrifícios maiores — bois e ovelhas — usando para isso um chicote (Jo 2,15); depois derruba as bancas dos cambistas e pede (gentilmente?) aos vendedores de pombas que levem embora sua mercadoria. Em João, Jesus não purifica o Templo. Ele expulsa o culto! Acaba com o Templo! Por isso, João relaciona esse fato com a questão da autoridade de Jesus e com sua palavra sobre a destruição e reconstrução do Templo (que nos outros evangelhos aparece como uma acusação falsa: Mc 14,57-58). João cita esta palavra não como um falso testemunho, mas como uma profecia a respeito do próprio corpo (= pessoa) de Jesus, destruído pelos homens e reerguido por Deus (2,18-21). Este sentido só ficou claro depois da ressurreição (Jo 2,22). E foi também depois da ressurreição que os discípulos se lembraram da palavra do Salmo 69,10: “O zelo por tua casa me vai devorar” (Jo 2,17).

João aprofunda, assim, o sentido do gesto profético de Jesus e, por isso, apresenta esta lembrança bem no início de seu evangelho, pois todo o seu evangelho descreve como os donos da religião destróem Jesus, mas Deus o reergue.

Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

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