quarta-feira, 14 de março de 2018

Liturgia do dia 25/02/2018


Liturgia do dia 25/02/2018


Leituras
Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18
Sl 115(116B),10.15.16-17.18-19 (R/. Sl 114,9)
Rm 8,31b-34
Mc 9,2-10 (Transfiguração)

2ª semana da Quaresma

Domingo

Primeira Leitura: Gn 22,1-2.9a.10-13.15-18

Naqueles dias,1provou Deus a Abraão, e clamou: “Abraão! Abraão!”. “Eis-me aqui”, respondeu-lhe. E Deus continuou: “Toma teu filho, teu único filho, que tanto amas, Isaac, e vai à região de Moriá e lá oferecê-lo-ás em holocausto sobre um dos montes que te indicarei”. 9Tendo chegado ao lugar que Deus lhe designara, erigiu Abraão um altar, preparou a lenha e, amarrando seu filho Isaac, colocou-o sobre a lenha em cima do altar. 10Estendeu a mão e pegou a faca para sacrificar o filho. 11Mas o Anjo de Javé chamou-o do céu dizendo: “Abraão! Abraão!”. Respondeu ele: “Eis-me aqui!”. 12 E disse o Anjo: “Não levantes tua mão contra o menino e não lhe faças mal algum! Agora sei que verdadeiramente temes a Deus, pois não me recusaste teu filho, teu filho único”. 13E levantando os olhos viu Abraão um carneiro com os chifres presos num espinheiro; foi buscá-lo e sacrificou-o em lugar de seu filho, oferecendo-o em holocausto.15 O Anjo de Javé chamou Abraão uma segunda vez do céu 16e lhe disse: “Juro-te por mim mesmo, palavra de Javé, pois que tal coisa fizeste, e não me recusaste teu filho, teu único filho, 17 eu te cumularei de bênçãos e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e a areia que está na praia do mar. E tua descendência se apoderará das Portas de seus inimigos. 18 Todas as nações da terra serão abençoadas por meio de tua descendência, porque obedeceste à minha voz”.
Salmo: Sl 115(116B),10.15.16-17.18-19 (R/. Sl 114,9)
R. Andarei na presença de Deus, junto a ele na terra dos vivos.
10 (1) Confiei no Senhor, mesmo ao dizer: “Acabrunhado estou!”.

15 (6) Quão preciosa aos olhos do Senhor a morte dos seus santos!

16 (7) Teu servo sou, de tua escrava filho; quebraste os meus grilhões! 17 (8) E te ofereço, grato, um sacrifício, o teu nome invocando.

18 (9) Pago minhas promessas ao Senhor diante de todo o povo. 19 (10) Nestes átrios da casa do Senhor, em ti, Jerusalém!
Segunda Leitura: Rm 8,31b-34

Irmãos: 31b Se Deus está conosco, quem estará contra nós? 32 Ele que não poupou seu próprio Filho, mas o ofereceu por todos nós, como não nos daria tudo juntamente com ele? 33 Quem se atreveria a acusar os escolhidos por Deus? Deus é quem os justifica! 34 Quem os condenará? Jesus Cristo que morreu, ou melhor, que ressuscitou e se acha à direita de Deus é quem intercede por nós!
Evangelho: Mc 9,2-10 (Transfiguração)

2 Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João, e conduziu-os, a eles somente, a um lugar solitário, num alto monte. Transfigurou-se diante deles: sua roupa tornou-se tão brilhante e alva que nenhuma lavadeira na terra conseguiria alvejar dessa maneira. 4Apareceu-lhes Elias com Moisés, os quais se entretinham com Jesus. 5 Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: “Rabi, é bom estarmos aqui. Vamos fazer três tendas, uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias”. 6 É que não sabia o que dizer, pois estavam aterrorizados. 7Apareceu, então, uma nuvem que os cobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu filho bem-amado! Escutai-o!”. 8 E de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém; apenas Jesus com eles. 9Ao descer do monte, ele lhes proibiu contar o que viram, até que o Filho do homem ressuscitasse dos mortos. 10Guardaram este segredo, mas perguntavam entre si o que significaria “ressuscitar dos mortos”.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2018 - Ano B - São Marcos, Brasília, Edições CNBB, 2017.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
NESTA QUARESMA ESCUTEMOS O FILHO BEM-AMADO DE DEUS PAI.
NELE O PAI PERDOA TODOS OS PECADOS E NOS GARANTE A VIDA ETERNA.
Na Primeira Leitura lemos a estória da obediência de Abraão a Deus, quando o pôs à prova, mandando que oferecesse em sacrifício seu filho Isaac.
Ficamos admirados pela obediência imediata de Abraão, sem opor resistência alguma à vontade de Deus. Abraão era do tipo de pessoa tão unido a Deus que sua vontade coincidia com a Dele. A Abraão foi possível este nível elevado de obediência porque sua fé estava firmemente apoiada em Deus muitos anos antes. Se não tivesse esta fé tão firme, o próprio Deus não chegaria a pôr-lhe uma prova tão dolorosa como aquela.  
Ouçamos a voz de Deus dirigida a Abraão:
“Toma teu único filho, Isaac, a quem tanto amas ...”.(Gn 22,2).
E em seguida ordena a Abraão que ofereça Isaac em holocausto. Isto é, Abraão veria o corpo de seu filho ser consumido pelo fogo até os ossos. Apesar de tão terrível esta ordem, Abraão decidiu obedecer, mesmo que muitas perguntas quisesse apresentar a Deus.
Na mente de Abraão surgiu ainda outra pergunta terrível: ‘morto meu primogênito Isaac, a quem passarei a Benção e as Promessas de Deus?’. Mas, como antes, pensou: “Deus providenciará”. 
Além disso, morto Isaac, o nome de Abraão desapareceria sobre a terra; ele ficaria esquecido na história de seu clã, na história dos homens. 
Sabemos que Deus viu com amor a obediência de Abraão. Antes, porém, que sacrificasse Isaac, Deus desistiu do sacrifício do jovem. Mas quis que Abraão continuasse seu culto por meio do sacrifício de um cordeiro encontrado preso numa moita próxima.
Parece que a estória termina aqui. Porém precisamos nos lembrar que seu início está escrito: “Naqueles dias Deus pôs Abraão à prova” (Gn 22,1).
Qual prova? O que, precisamente, Deus precisava provar em Abraão?
No passado Abraão já tinha provado obediência a Deus quando deixou a terra de seus pais para ir à terra que Deus lhe prometera, num local que Abraão ainda não conhecia. O que Deus queria além desta prova de obediência? 
Deixar a terra dos antepassados, para Deus, não era tudo o que Abraão podia Lhe oferecer. Havia mais, muito mais.
Este ‘muito mais’ envolveria tudo o que para Abraão significava: sua própria existência, sua vida, seu passado, presente e futuro. Enfim, Deus queria tudo o que dele pudesse tirar. Para Abraão nada devia sobrar, a não ser a fé que recebera como dom de Deus. Seria como que o aniquilamento existencial de Abraão.
Ora, esse ‘tudo’ para Abraão se concentrava precisamente no motivo de sua paternidade, de seu futuro, de suas esperanças no cumprimento das Promessas feitas pelo próprio Deus! Esse ‘tudo’ tinha um nome: Isaac! Deus fora claro: “Toma teu único filho, Isaac, a quem tanto amas ...”. (Gn 22,2).
Considerando mais profundamente esta exigência divina,entendemos que o verdadeiro sacrifício foi o da obediência de Abraão.
E o que Deus lhe deu em troca? Deu-lhe a Promessa. Está formulada em Gn 22,17:
“ ... eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua descendência como as estrelas do céu  como as areias da praia do mar”.
Façamos um salto no tempo.
Passemos dos anos 1800 a.C., tempo de Abraão, e cheguemos ao início da era cristã, ao tempo em que o Evangelista Lucas escreveu o Evangelho que lemos hoje.
Notemos como neste Evangelho aparece o mesmo Deus de Abraão.
Mas agora Deus revela seu plano de salvação de toda a humanidade.
Neste Evangelho vemos Jesus, o Filho de Deus, que se transfigura diante de seus discípulos. Uma nuvem os envolve e a voz de Deus se faz ouvir: “Este é meu [único] Filho [Jesus] que tanto amo ... ” (Mc 9,7).
Deus não pedira a Abraão o sacrifício de Isaac dizendo:“Toma teu único filho, Isaac, a quem tanto amas ...”? (Gn 22,2).
Ora, no momento da Transfiguração de Jesus, apareceram a seu lado Moisés e Elias, que falavam com Ele sobre sua futura Paixão e Morte para a salvação do mundo. Deus, portanto, falando aos discípulos de Jesus neste momento, prenuncia a Paixão e Morte de Jesus. Dele Deus pedirá tudo, o sacrifício total para a Salvação de toda a humanidade, holocausto completo. Não haverá, desta vez, nada para substituir Jesus na Cruz. Ele mesmo é o ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (Jo 1,29).
Esta comparação entre Isaac e Jesus foi bem cedo entendida pelos primeiros cristãos no início da Igreja.
Muito tempo depois da Ressurreição de Jesus São Paulo percorria o mundo para anunciar a Boa Nova: pelo sacrifício de Jesus na Cruz Deus perdoou os pecados de toda a humanidade. Jesus Cristo é nosso Salvador. Ele não quer a condenação de nós todos, pecadores, mas é nosso advogado diante de Deus Pai.
Ora, isto São Paulo escreve em Rm8,31b-32:
31b: “Se Deus é por nós, quem é contra nós? 
32. Deus que não poupou seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com Ele?”.
São Paulo nos diz mais: ninguém pode condenar os que o Pai uniu a Seu Filho amado: 
34. “Quem condenará [os escolhidos de Deus]?” Acaso Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou e está à direita de Deus, intercedendo por nós?”
A este ponto relembremos o início desta meditação, repetindo suas palavras:
NESTA QUARESMA ESCUTEMOS O FILHO BEM-AMADO DE DEUS PAI.
NELE O PAI PERDOA TODOS OS PECADOS NOS GARANTE A VIDA ETERNA.Meditando o Salmo Responsorial de hoje, consideremos como ditas por Abraão estas palavras: “Guardei minha fé [em Deus] mesmo dizendo:
É demais o sofrimento em minha vida’ ” [Sl 115(116B),10].
Esta seja nossa oração nos momentos de provas queridas por Deus em nossas vidas.
E que todo Salmo Responsorial de hoje nos seja iluminado pelo Espírito Santo com sua santidade e sabedoria.
Ele vai nos mostrar que Jesus, em conformidade com a vontade de Deus, manteve-se fiel ao Pai, que lhe pediu tudo de sua existência humana.
Ele é nosso exemplo e modelo de fidelidade, obediência a Deus em todos os sofrimentos de nossa vida.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
Um “ponto alto” no Evangelho de Marcos
O 2º domingo da Quaresma é o domingo da Transfiguração de Jesus. Já que o texto bíblico não diz em que monte foi, quero apontar a proximidade entre a Transfiguração de Jesus (Mc 9,2-10) e a confissão de fé pronunciada por Pedro (Mc 8,27-30), em Cesaréia de Filipe, no sopé do Monte Hermon, ao norte da Galiléia. (Consigo imaginar melhor a cena no Monte Hermon com seu pico envolto de nuvens, meio-coberto de neve, do que no humilde Tabor, coxilha na planície da Baixa Galiléia.)

Estamos no meio da narrativa de Marcos. Os discípulos, finalmente, reconheceram em Jesus o Messias, o Cristo (8,29). Mas Jesus lhes explica que o “Filho do Homem”, como ele se chama a si mesmo (cf. Dn 7,13-14), não devia ser imaginado como um messias conquistador à maneira do rei Davi, e sim, como o Servo Sofredor de Is 52.13–53,12 (Mc 8,31-33; 9,31; 10,32-34.45). Isto provoca o protesto de Pedro, ao qual Jesus responde por uma severa censura (8,32-33). Jesus ensina, então, que não só ele, mas também seus discípulos devem pegar sua cruz e carregá-la, trilhando os passos de seu Mestre (8,34). E anuncia a recompensa desse desprendimento: alguns dos que estão aí não conhecerão a morte antes de verem chegar o Reino de Deus com poder (9,1). Estes “alguns” vão ser, de imediato, os três principais discípulos de Jesus: Pedro, Tiago e João. Eles sobem com ele uma montanha muito alta e lá têm uma visão de Jesus envolto de glória — a Transfiguração. E do meio da nuvem vem uma voz: “Este é meu Filho amado: ouvi-o” (9,7).

Devemos relacionar esta cena, bem no meio do evangelho de Marcos, com duas outras em que se abre o acesso a Deus: no início do evangelho, quando, no batismo de Jesus, os céus se abrem (cf. Is 64,1; Ez 1,1 etc.) e uma voz fala a Jesus pessoalmente: “Tu és meu filho, em ti está meu pleno agrado” (1,9-11); e no fim, quando o véu do Santíssmo do Templo se rasga de cima a baixo e o centurião romano, ao pé da cruz, exclama: “Este era verdadeiramente o Filho de Deus” (15,38).

Deus se torna acessível a nós quando Jesus inicia sua obra (Mc 1,9-11), quando seus discípulos o vêem envolto de glória no momento que é literalmente o mais “alto” do evangelho (9,2-10) e quando Jesus completa a sua obra na cruz, tornando obsoleto o sistema que condicionava o acesso a Deus pelos ritos do Templo. Pois este é o sentido de que a cortina do Santuário se rasga de cima a baixo (15,38).

Que é a cortina (ou “véu”) do Templo? No Santuário da antiga Lei, atrás do espaço para os sacríficios de incenso — o “Santo” —, havia um segundo espaço, separado do primeiro por uma cortina: o “Santíssimo”. Aí podia entrar somente o sumo sacerdote, uma vez por ano, no dia da Expiação, Yom Kippur, depois de ter purificado a si mesmo e ao povo com o sangue dos animais sacrificados. A Carta aos Hebreus explica que tudo isso não tem mais utilidade, porque Cristo transpôs essa cortina em virtude de seu próprio sangue derramado na cruz; e por isso ele é sumo sacerdote de uma ordem superior à dos sacerdotes do Templo, que eram os sucessores de Aarão; Jesus é da ordem de Melquisedec, superior a Aarão. O dom da vida de Jesus torna supérfluos os sacrifícios do Templo para ter acesso a Deus.

Marcos diz a mesma coisa, de maneira bem mais simples e direta, quando escreve que na hora da morte de Jesus a cortina do Santuário se rasgou (Mc 15,38). Jesus abre definitivamente o acesso a Deus, tornando-nos capazes de estar diante de Deus. Como? Por seu sangue, como diz Hb? Depende como se entende: não porque seu sangue é aspergido em sinal de purifcação, como fazia o sumo sacerdote do Antigo Testamento. Mas porque o dom da própria vida até o sangue é a prova do amor de Jesus até o fim e o caminho pelo qual nós, seguindo Jesus, nos aproximamos de Deus.

O evangelho de Marcos está, portanto, emoldurado pelo tema da abertura do acesso a Deus. No início, o céu se abre para Jesus. No meio — no “ponto alto” da Transfiguração — o céu se comunica com os que o seguem para que escutem a sua palavra. E no fim, a cortina do Santuário se rasga, para que o mundo universal representado pelo centurião romano reconheça Jesus como Filho de Deus, no momento de dar sua vida para o mundo.

Este reconhecimento só é possível no fim. Jesus é também chamado “filho de Deus”, em Marcos, pelos demônios que ele expulsa e aos quais ele proíbe dizer quem ele é (3,11; 5,7)! Desde o primeiro contato com Jesus, eles sentiam o efeito da presença do enviado de Deus. Mas não podiam publicá-lo, pois quem Jesus é só se compreende no fim de seu percurso. Em Mc 1,9-11, é só o próprio Jesus que ouve a proclamação de que ele é o Filho; em 9,2-10, os principais discípulos ouvem a proclamação, mas Jesus lhes proíbe falar disso antes de sua morte e ressurreição (9,10). De fato, é só na hora de sua morte, que nos abre o acesso a Deus, que o centurião “pagão” proclama Jesus como Filho de Deus (15,38). Só depois da cruz e ressurreição, o mundo é capaz de entender que Jesus é o Filho amado de Deus. Por isso, ele assume o testemunho do amor de Deus por nós dando sua própria vida; e por isso, Deus o glorifica na ressurreição (cf. Fl 2,6-11).

Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

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