segunda-feira, 1 de maio de 2017

Leituras
At 2,14.22-33
Sl 15,1-2a.5.7-8.9-10.11
1Pd 1,17-21
Lc 24,13-35

3ª Semana da Páscoa Ano A

Domingo

Primeira Leitura: At 2,14.22-33

No dia de Pentecostes,14 Então Pedro, de pé e cercado pelos Onze, em voz bem alta lhes falou: “Homens da Judeia e vós todos, habitantes de Jerusalém! Ficai sabendo bem o que se passa e prestai atenção às minhas palavras. 22 Homens de Israel, escutai o que digo: Jesus de Nazaré foi o homem credenciado por Deus junto a vós com poderes extraordinários, milagres e prodígios. Bem sabeis as coisas que Deus realizou através dele no meio de vós. 23 Ora, de acordo com o plano bem definido e previsto por Deus, foi entregue às mãos dos ímpios e vós o crucificastes e matastes. 24 Mas Deus o ressuscitou, livrando-o da escravidão da morte. De fato, não era possível que a morte o retivesse em seu poder; 25 porque diz Davi a respeito dele: Sempre tive o Senhor presente diante de mim. Ele está à minha direita, para que eu não fique perturbado. 26 Por isso meu coração ficou contente e minha língua cantou de alegria e minha própria carne repousará na esperança. 27 É que não abandonarás a minha vida na mansão dos mortos, nem permitirás que teu Santo sofra a decomposição. 28 Deste-me a conhecer os caminhos da vida, e tu me encherás de alegria em tua presença. 29 Meus irmãos! Que eu vos possa falar com franqueza a respeito do nosso patriarca Davi: ele morreu, foi sepultado e até hoje seu túmulo se acha entre nós. 30 Sendo profeta, ele sabia que Deus tinha firmado com juramento a promessa de elevar ao seu trono um dos seus descendentes. 31 Neste caso foi a ressurreição de Cristo que ele tinha visto com antecedência e anunciado, quando disse que não seria abandonado na mansão dos mortos, nem sua carne experimentaria a corrupção. 32 Foi a este Jesus que Deus ressuscitou. E disso todos nós somos testemunhas. 33 Agora que ele foi exaltado à direita de Deus e recebeu do Pai o que tinha prometido, a saber, o Espírito Santo, ele o derramou sobre nós como estais vendo e ouvindo.
Salmo: Sl 15,1-2a.5.7-8.9-10.11

R. Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto de vós felicidade sem limites!
1 Guarda-me, ó Deus, em ti busco refúgio. 2 Disse ao Senhor: “És tu o meu Senhor; não tenho outra alegria além de ti!”.

5 Porção da minha herança e do meu cálice, és tu, Senhor, que guardas meu quinhão.

7 Bendigo a Deus porque ele me inspirou, fala-me o coração mesmo de noite. 8 Ponho sempre o Senhor diante dos olhos; não posso resvalar; se o tenho ao lado.

9 Meu coração se alegra e exulta a alma; repousará meu corpo em grande paz. 10 Não deixarás minh’alma entregue à morte, nem corromper-se o corpo do teu servo.

11 O caminho da vida tu me ensinas, viver junto de ti é pleno gozo, delícia eterna estar à tua destra!
Segunda Leitura: 1Pd 1,17-21

Caríssimos:17 Entretanto, se chamais Pai aquele que há de julgar imparcialmente, segundo as obras de cada um, procurai levar uma vida com temor durante a vossa peregrinação. 18 Já o sabeis: fostes resgatados de vossa vida fútil, herança dos antepassados, não por valores perecíveis, prata ou ouro, 19 mas pelo sangue precioso de Cristo, o Cordeiro imaculado, sem mancha, 20 que, predestinado já antes da criação do mundo, se manifestou no final dos tempos por amor de vós. 21 É por ele que tendes fé em Deus, que o ressuscitou dos mortos e o glorificou. Desta maneira vossa fé e esperança estão em Deus.
Evangelho: Lc 24,13-35

13 No mesmo dia, dois deles viajavam para um povoado chamado Emaús a sessenta estádios de Jerusalém: 14 falavam sobre o que tinha acontecido. 15 Enquanto conversavam e discutiam, Jesus em pessoa aproximou-se deles, começando a acompanhá-los; 16 mas os olhos deles estavam como que vendados, de sorte que não conseguiam reconhecê-lo. 17 Então lhes perguntou: “Que assunto estais discutindo enquanto caminhais?”. Eles pararam tristes. 18 Um deles, chamado Cleófas, respondeu: “Por acaso és o único visitante em Jerusalém a ignorar o que se passou nesses dias?”. 19 Ele perguntou: “Que foi?”. E eles continuaram: “O que aconteceu com Jesus de Nazaré, que era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo povo. 20 Como os sacerdotes-chefes e os nossos dirigentes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. 21 Esperávamos que fosse ele quem libertaria Israel; mas, além disto, este é o terceiro dia desde que isso tudo aconteceu! 22 É verdade que algumas mulheres, das que estavam conosco, nos espantaram. 23 Elas foram de madrugada ao sepulcro e não acharam o corpo. Voltaram dizendo que tinham aparecido anjos, assegurando que está vivo! 24 Muitos de nossos amigos foram ao sepulcro e acharam as coisas como as mulheres disseram; mas não o viram”. 25 Ele então lhes disse: “Ó homens sem inteligência, como é lento o vosso coração para crer no que os profetas anunciaram! 26 Não era preciso que Cristo sofresse essas coisas para entrar na glória?”. 27 E partindo de Moisés, começou a percorrer todos os profetas, explicando em todas as Escrituras, o que dizia respeito a ele mesmo. 28 Quando se aproximaram do povoado aonde se dirigiam, Jesus fez como quem ia para mais longe. 29 Mas eles o forçaram a parar, dizendo: “Fica conosco, porque se faz tarde e o dia vai declinando”. Então, entrou no povoado para ficar com eles. 30 À mesa, ele tomou o pão e, recitando a fórmula da bênção, o partiu e distribuiu entre eles. 31 Então é que os seus olhos se abriram e eles o reconheceram… mas ele desapareceu da sua vista. 32 Disseram um ao outro: “Não é verdade que o nosso coração ardia, quando nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”. 33 Voltaram, naquela mesma hora, para Jerusalém. Acharam ali reunidos os Onze e seus companheiros, 34 que lhes asseguraram: “É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!”. 35 Eles também contaram o que lhes tinha acontecido pelo caminho e como o reconheceram no partir o pão.
Leituras: Diretório da Liturgia e da Organização da Igreja no Brasil 2017 - Ano A - São Mateus, Brasília, Edições CNBB, 2016.
Citações bíblicas: Bíblia Mensagem de Deus, São Paulo, Edições Loyola e Editora Santuário, 2016.
Boa Nova para cada dia
Primeira Leitura: At 2,14.22-33.
Deus ressuscitou a Jesus, libertando-O das angústias da morte, porque não era possível que ela O dominasse (At 2,24).                
Estas são palavras de São Pedro em seu discurso aos judeus no dia de Pentecostes.
Inspirado pelo Espírito Santo, São Pedro se mostra cheio de coragem e sabedoria, um verdadeiro líder da comunidade cristã nascente. Ele tem coragem de denunciar o julgamento injusto de Jesus pelos judeus, dizendo-lhes “Deus ... determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos ímpios, e vós O matastes, pregando-O numa cruz” (At 2,23).
A acusação “vós O matastes” foi direta, acusatória não só contra o povo que estava ali diante de São Pedro, como também contra os sumos sacerdotes.
O objetivo de São Pedro neste discurso foi mostrar aos judeus o erro que cometeram, e como, agora devem fazer justiça, convertendo-se a Jesus Cristo.                
O motivo da conversão a Jesus Cristo é claro: “Deus ressuscitou a Jesus”. Portanto a morte à qual O levaram os judeus ficou anulada, “libertando-O das angústias da morte, porque não era possível que ela O dominasse”
(At 2,24).
Os líderes judaicos queria Jesus morto.
E agora Jesus está vivo!
E mais:                
“... agora, exaltado pela direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo que fora prometido pelo Pai, e o derramou, como estais vendo e ouvindo”
(At 2,33). 
               
Maior argumentação São Pedro não poderia encontrar.
Os judeus, portanto, devem pedir perdão a Deus pelo crime cometido e aceitaram Jesus Cristo e o Batismo. É isto que nos mostra a continuação da leitura de Atos 2,37-41: perto de três mil pessoas se converteram naquele dia, foram batizados e receberam o dom do Espírito Santo.                
Esta leitura nos mostra o forte contraste entre o Cristo entregue à Paixão e Morte pelos judeus e o grande poder que Deus Nele manifesta depois de O ressuscitar
. É este o pensamento que deve nos ocupar neste domingo. A Ressurreição de Jesus tem efeitos sobre seus discípulos, que se encorajam e vão às ruas falar sobre Ele Ressuscitado. Tem efeito sobre os judeus que reconhecendo seu crime se convertem, pedem o perdão, são batizados e recebem o dom do Espírito Santo. Tudo se muda com a Ressurreição de Jesus. 
               
Nossa vida cristã está mergulhada nos efeitos divinos da Ressurreição de Jesus. Se não nos damos conta disto, não é porque de Sua parte Deus e Jesus Cristo deixam de produzir em nós o desejo de conversão e obediência às moções do Espírito Santo para cumprirmos a vontade de Deus.
Nós é que devemos nos mudar para corresponder ao que Deus de nós espera, especialmente neste Tempo Pascal.
Salmo Responsorial: Sl 15(16),1-11.
... não haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção [Sl 15(16),10].
Foi São Pedro quem aplicou este Salmo à Ressurreição de Jesus. Ele o fez em seu discurso, lido na Primeira Leitura de hoje.
São Pedro quis mostrar bem claro a diferença entre o rei Davi, que escreveu este Salmo, e que morreu, e Jesus, a quem este Salmo se aplica, pois profetizou tanto Sua morte como Sua Ressurreição.
Diz o Salmo em seus versículos 9-10, que os primeiros cristãos entenderam como oração de Jesus a Deus Pai:
Eis porque meu coração está em festa. Minha alma rejubila de alegria,
e até meu corpo no repouso [da sepultura] está tranquilo,
pois não haveis de me deixar entregue à morte,
nem vosso amigo conhecer a corrupção.
O Salmo, portanto, nos leva ao íntimo de Jesus Ressuscitado.
Já antes de morrer Jesus recitava este Salmo em suas orações frequentes.
Em seu íntimo a alegria da Ressurreição está na união com Deus Pai:
Vós me ensinais o caminho para a vida,
junto a Vós, felicidade sem limites,
delícia eterna e alegria ao Vosso lado [Sl 15(16),11].
Imaginemos a alegria de Jesus Cristo, o Filho de Deus, de volta ao Pai, depois de ressuscitar, para a Vida Eterna.
Mais ainda: o que marca a Vida Eterna de Jesus junto ao Pai?
É o que diz o Salmo e que convém repetir e reter de memória:
junto a Vós, felicidade sem limites,
delícia eterna e alegria ao Vosso lado [Sl 15(16),11].
Sintamos alegria com Jesus Ressuscitado. Esta alegria nos será dada por Ele quando formos ressuscitados por Deus para ficarmos com Ele na Vida Eterna.
Segunda Leitura: 1Pd 1,17-21.
Deus O ressuscitou dos mortos e Lhe deu a Glória.
Assim a vossa fé e esperança estão em Deus. (1Pd 1,21b).
São Pedro nos guia, também nesta Segunda Leitura, para nossa contemplação de Jesus Ressuscitado.
Pelo Salmo Responsorial vimos como o retorno do Filho de Deus à eternidade com o Pai, depois de Sua Ressurreição, Lhe deu felicidade sem limites, delícia eterna e alegria ao lado de Deus Pai [Sl 15(16),11].
São Pedro nesta Segunda Leitura nos diz mais sobre o que aconteceu entre o Filho e o Pai depois da Ressurreição de Jesus: Lhe deu a Glória (1Pd 1,21b).
O que é a Glória?
É a majestade, a honra de Deus manifesta aos homens e ao mundo criado.
Mas se perguntarmos qual e a fonte desta Glória de Deus, a teologia nos diz que é a qualidade divina principal: o Amor Vivo divino. O Amor-Vida de Deus de tal forma é especial, belo, poderoso, majestoso e infinito, que dado a conhecer aos homens ofusca todos os olhares e faz arder todos os corações.
Se conhecêssemos profundamente a Glória de Deus, seria impossível a qualquer pessoa amar qualquer coisa neste mundo a não ser Deus em seu Amor-Vida-Glória.
Como neste mundo não vivemos ainda na Glória plena de Deus, São Pedro nos diz: Assim a vossa fé e esperança estão em Deus. (1Pd 1,21b).
Temos fé no amor de Deus por nós.
Temos esperança de chegarmos um dia à Gloria de Deus sendo ressuscitados como Deus ressuscitou Jesus Cristo.
Temos esperança de viver na Vida-Amor Eterno de Deus.
E tudo isto nos é dado porque o Poder de Deus se manifesta em Jesus Ressuscitado, e porque é Ele é quem nos leva ao Pai.
Consideremos isto, sintamos alegria por isto, peçamos isto a Deus insistentemente. É deste modo que são ativadas nossa fé e esperança, como diz São Pedro nesta Segunda Leitura.
Evangelho: Lc 24,13-35.
... os dois contaram ... como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão (Lc 24,35).
A história dos discípulos de Emaús nos emociona pelos contrastes que contém.
Saindo de Jerusalém, os dois vãos em busca de outro rumo para suas vidas. O seguimento de Jesus fora, para eles, naquele momento, um fracasso.
Precisamente no meio desta visão de fracasso de tudo o que Jesus fizera, o próprio Jesus muda as coisas: naquele caminho, Ele, em pessoa, aparece-lhes em figura irreconhecível.
Ao falar-lhes sobre Si mesmo, o Cristo, Jesus já inicia a Se revelar aos dois.
E naquele momento, o que para os dois era fracasso começa a se mudar em glória. Os dois sentem que de seus corações vão saindo as trevas das dúvidas e neles vai penetrando a luz: “Não estava ardendo nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho... ?” (Lc 24,32b).
O coração deles “ardia”. “Ardia” como ardem numa fogueira os ramos secos.
“Ardia” como os pavios de uma lâmpada a óleo eram acesos no meio da noite difundindo luz.
Quando Jesus dá a entender que deseja continuar sozinho o caminho, os dois insistem que continue com eles. Já se faz tarde, a noite se aproxima. Não querem permanecer na escuridão. Percebem que uma luz maior, a definitiva, está por se estender sobre eles.
E é então que Jesus mesmo se desvela: tomando o pão o repartiu como na Última Ceia. Foi o suficiente para que os dois discípulos o identificassem como a luz que esperavam ver por fim: a Ressurreição de Jesus era um fato.
Mas Jesus desaparece diante de seus olhos. Nada mais havia a lhes revelar.
Não gostaríamos que a história continuasse com Jesus presente entre os discípulos naquela estalagem? Não gostaríamos de estar ali para presenciarmos também a face do Cristo Ressuscitado?
Não nos foi dado ver o Cristo Ressuscitado.
Mas nos foi dada a fé de São Tomé. Mais do que ver o Ressuscitado Jesus nos diz que importa crer. E cremos sem ter visto. E cremos porque aceitamos o testemunho dos discípulos de Emaús, e dos demais discípulos.
Ao longo de nossa vida Jesus “desaparece” de nosso olhar.
Mas, porque cremos, O veremos, e seremos como Ele: ressuscitados.
Pensemos com fé na esperança que Deus nos dá de irmos ao encontro de Jesus na Vida Eterna. E Deus nos atenderá.
Autor: Pe. Valdir Marques, SJ, Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Descobrindo a Bíblia
O “primeiro anúncio”
Atividade fundamental nos primeiros anos da comunidade cristã era o primeiro anúncio a respeito de Jesus Cristo. Que é que se anunciava a respeito de Jesus?
Não somente para satisfazer nossa curiosidade a respeito, mas também para ensinar o que nós devemos anunciar, Lucas reconstituiu, nos Atos dos Apóstolos, diversos modelos de pregação do “primeiro anúncio cristão”:
  2,14-37: Pedro, no dia de Pentecostes, aos romeiros presentes em Jerusalém;
  3,12-26: Pedro, aos freqüentadores do Templo em Jerusalém (os judeus da capital);
  10,34-43: Pedro, aos amigos e parentes do militar pagão Cornélio, em Cesaréia (Palestina);
  13,16-41: Paulo, à comunidade judaica em Antioquia da Pisídia (Turquia);
  17,22-31: Paulo, aos intelectuais de Atenas (Grécia), no Areópago.
O esquema é sempre o mesmo. Primeiro, os pregadores situam a mensagem em relação aos pressupostos religiosos e culturais dos ouvintes. Falando a judeus, lembram a história de Israel e as promessas dos profetas. Falando ao pagão Cornélio, Pedro afasta as discriminações religiosas e culturais. E quando Paulo fala aos intelectuais de Atenas, não hesita em valorizar seu senso religioso um tanto estranho, citando até os poetas pagãos de Atenas.
Mediante esse “aperitivo”, os pregadores preparam o público para ouvir a mensagem a respeito de Jesus propriamente. O melhor exemplo disso encontra-se no discurso para a gente de Cornélio, em At 10,37-43. Lembra “o que aconteceu na terra dos judeus, a começar pela Galiléia, depois do batismo pregado por João: como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com Espírito Santo e com poder. Por toda a parte, ele andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; pois Deus estava com ele”. “Nós somos testemunhas” — continua Pedro — “de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, e concedeu a Jesus manifestar-se, não a todo o povo, mas às testemunhas designadas de antemão por Deus: a nós, que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou dos mortos. E Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos”.
Por fim, Pedro menciona as Escrituras (do Antigo Testamento) que já apontaram nesta linha. E a oferta de perdão e renovação a todos os que queiram aderir a Jesus.
O sucesso dessas pregações foi variável. No dia de Pentecostes e na casa de Cornélio, Pedro teve grande sucesso. O mesmo não se pode dizer de Paulo no Areópago (veja At 17,32-34!). Aliás, Paulo manda pregar oportuna ou inoportunamente (2Tm 4,2).
O que se comunica nesta pregação é essencialmente a atuação, morte e ressurreição de Jesus. O esquema usado por Pedro em At 10,37-43 é o espelho de um pequeno livro que é atribuído a seu secretário, Marcos. Podemos supor que o evangelho de Marcos traz mais ou menos os conteúdos do primeiro anúncio cristão. Em poucas palavras, conta como Jesus, iniciando seu ministério depois do batismo por João, ensinou por gestos e palavras uma nova maneira de compreender Deus; e como ele foi fiel a seu ensinamento e aos que ele instruiu, enfrentando uma oposição que resultaria em sua morte. Sua morte é, assim, a prova daquilo que ele ensinou. E, depois de sua morte, os discípulos tiveram a experiência de que Deus o fez viver, glorioso para sempre, na ressurreição.
É isso que a Igreja deve pregar em primeira instância, hoje e sempre. Isso é a nova evangelização, mais urgente do que combater os crentes, imitar Sílvio Santos em programas de tevê católica ou protestar contra a camisinha, se é que isso serve para alguma coisa.
Não pensemos que para nós, hoje, o primeiro anúncio seja coisa ultrapassada. É verdade que temos vinte séculos de tradição cristã, com as obras de Sto. Agostinho, de Sto. Tomás e até o novo Catecismo da Igreja Católica. Mas será que os nossos contemporâneos – e nós mesmos – conhecemos o primeiro anúncio? “Jesus? Desconheço” foi a resposta de um jovem de Paris a um jornalista que pesquisava a vivência religiosa. Será que Paris não está no Brasil? Quantos jovens, mesmo de famílias tradicionalmente cristãs, ouviram falar de maneira sensata e convincente daquilo que Jesus viveu? Ouviram o discurso católico tradicional moralista e clerical, ou então a conversa modernizante que faz de Jesus o primeiro comunista ou um “cara legal”. Mas será que alguém os confrontou com o homem de Nazaré que amou em fidelidade até a morte e por isso se tornou nossa vida?
Artigo extraído do livro Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia, Pe. Johan Konings, Loyola, 1997.

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